Goiânia, 12 (Agência Brasil – ABr) – Um grupo de deficientes visuais de Goiânia, esteve no campus da Universidade Federal de Goiás (UFG) exclusivamente para acompanhar a conferência sobre visão artificial apresentada no quarto dia reunião da SBPC. O evento foi muito concorrido porqure muita gente estava interessada em conhecer as técnicas em teste que buscam amenizar uma deficiência que atinge 60 milhões de pessoas no mundo, cerca de 3% da população.
Segundo o oftalmologista e professor da UFG, Marcos Ávila, duas tecnologias baseadas em princípios distintos são hoje testadas com resultados satisfatórios: o transplante de células da retina e a prótese visual eletrônica. A primeira, mais complexa, consiste na produção em
laboratório de células fotossensíveis para implante na retina em substituição aos cones e bastonetes, células que convertem a intensidade e a cor da luz recebida em impulsos nervosos, e que, por algum problema, perderam a função. "O que impede o desenvolvimento dessa técnica é a falta de domínio sobre a reprodução dessas células em laboratório", explica Ávila. Apesar disso, o pesquisador acredita que em dez anos, esse procedimento estará disponível.
As próteses visuais eletrônicas são classificadas pelo professor em função da região onde os estímulos elétricos serão aplicados: no córtex cerebral (cortical), no nervo ótico ou na retina. As duas primeiras, informa Ávila, motivadas pela complexa organização do sistema nervoso ainda não estão completamente estruturadas, "ainda não há o domínio sobre que estímulos são despertados pela descargas elétricas", explica.
Também para esses casos, Ávila prevê em dez anos o prazo para o desenvolvimento da técnica.
Para falar sobre a experiência do Instituto Doheny de Olhos, em Baltimore, nos Estados Unidos, com o implante de próteses eletrônicas na retina, a SBPC trouxe o médico e pesquisador brasileiro Gildo Fujii, formado no Paraná, mas hoje trabalhando no instituto. Um paciente já teve uma placa de eletrodos implantada na retina, em Baltimore, e conforme dados apresentados por Fujji, os resultados são muito promissores. "Nos primeiros testes realizados após o implante,
esse paciente com cegueira total era capaz de nos informar quando colocávamos um objeto preto do tamanho de um livro a sua frente", explica.
A placa pregada cirurgicamente à retina do paciente tem 16 eletrodos que emitem 16 pontos de luz a serem captados pelo paciente. "Conforme o número de eletrodos aumenta, melhora a definição do campo visual, a próxima placa a ser implantada terá 50 eletrodos e a expectativa é
chegar a mil", explica Fujii. A técnica só pode ser aplicada em pessoas com pelo menos 30% de
atividade nos cones e bastonetes, grande parte dos deficientes visuais que perderam a visão por retinose pigmentar se enquadram nessa categoria, mesmo assim esse requisito reduz para cerca de 20% o número de deficientes que poderão ser beneficiados. "Mas as pesquisas com as
próteses implantadas na retina estão progredindo e tenho a certeza que a tecnologia poderá ser expandida para pacientes com outros tipologias de cegueira", prevê o pesquisador.(Hebert França)