Brasília, 23 (Agência Brasil - ABr) - O governo reagiu à invasão da fazenda Córrego da Ponte, de propriedade de familiares do presidente Fernando Henrique Cardoso, e já obteve vitória para que a área seja desocupada pelos mais de 500 trabalhadores rurais sem-terra que permanecem no local desde o início da manhã de hoje. O advogado da família do presidente, Fábio Luchesi, conseguiu obter da Justiça de Buritis mandado de manutenção de posse da fazenda, medida que obriga a desocupação imediata do local.
Segundo o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Alberto Cardoso, os invasores cometeram duplo delito, uma vez que invadiram propriedade privada e desacataram autorização judicial – o advogado da família já havia obtido da Justiça medida chamada de "interdito probitório" que impedia a invasão da Fazenda. "O quadro é de imposição da lei, e a democracia é o império da lei", enfatizou o general.
O governo também vai reforçar a segurança do local para garantir que a desocupação seja efetivada. O Exército Brasileiro está enviando cerca de 300 homens da Companhia de Fuzileiros para intensificar a segurança no local, juntamente com mais 40 agentes da Polícia Federal (PF). A PF já havia deslocado na manhã de hoje 40 agentes, que estão nos arredores da Fazenda administrando a situação. O general Cardoso esclareceu, ainda, que a Polícia Federal não irá realizar nenhuma operação na noite de hoje. Segundo ele, o delegado da PF que comanda a operação no local será o responsável pela análise da situação e ele dará a palavra final sobre a operação da Polícia Federal. "Vai ser imposta a lei", enfatizou Cardoso. De acordo com o general, a Fazenda não possui segurança permanente. Apenas um caseiro tem o hábito de permanecer no local quando familiares ou o próprio presidente não estão em Buritis.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, considerou a invasão um "ato de terrorismo inaceitável". Ele atribuiu a invasão à "falta de respeito do MST". Disse que a iniciativa do movimento não teve nenhum conotação social ou fundiária. "Isto é terrorismo e crime", enfatizou. Segundo Jungmann, o governo vem negociando com os trabalhadores acampados em Buritis para atender às reivindicações do movimento e disse que, na última quinta-feira, foi enviado um ouvidor agrário para negociar pessoalmente com os trabalhadores, embora a medida tenha sido rejeitada pelo MST. "O Incra deslocaria amanhã (24) um desembargador para Buritis e, na quinta-feira passada, o próprio secretário-executivo do Ministério entrou nas negociações", disse Jungmann.
O ministro foi para Buritis no início da noite de hoje para acompanhar de perto as negociações com o MST. Segundo Jungmann, grande parte dos invasores que estão na Fazenda possuem bens fundiários e rendimentos maiores que a média dos trabalhadores rurais do País. "Eles não estão em situação de miséria", esclareceu. A expectativa do ministro é que o mandado de manutenção da posse da fazenda seja cumprido e que os trabalhadores deixem o local o mais rápido possível. "A relação deve ser através da punição exemplar. Quem cumpre a lei é um juiz, mas um ato como esse deve ter da Justiça punição", disse.
Para o general Alberto Cardoso, "imposição da lei é deter quem está em delito e, dependendo, processá-lo". O general esclareceu, entretanto, que quem está acompanhando as decisões judiciais sobre o caso é o advogado da família do presidente. Na avaliação do general, a invasão protagonizada pelo MST "é um problema sério, como nunca houve na história do país", uma vez que os invasores estão acampados na sede da Fazenda, violando objetos do presidente da República. "Por alcançar a Presidência, que é a expressão do poder do povo brasileiro, todos os brasileiros tiveram simbolicamente suas casas invadidas, ocupadas e violadas", avaliou Jungmann.
Segundo nota divulgada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, os invasores ampliaram as reivindicações após o início das negociações com o Incra. Eles pretendem obter do governo, entre outros benefícios, solução para 76 assentados excedentes e 200 pessoas acampadas no local, divisão de lotes e liberação de R$ 126 mil para convênios de assistência técnica. Além disso, os trabalhadores solicitaram audiência com o prefeito de Buritis e com autoridades do Incra, sediado em Brasília. Eles invadiram a fazenda por volta das 7h da manhã de hoje e ameaçam permanecer no local até que seus pedidos sejam atendidos.