Pesquisa da OIT mostra perfil da criança do Rio no tráfico de drogas

01/03/2002 - 14h29

Brasília, 1 (Agência Brasil - ABr) - A Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou hoje, nesta capital, o estudo sobre o Emprego de Crianças e Adolescentes no Tráfico de Drogas na cidade do Rio de Janeiro. A pesquisa identifica como principais causas do envolvimento de crianças, entre cinco e 14 anos, com drogas, a identificação com o grupo, seguido da adrenalina e do dinheiro, desejo de consumo, prestígio e poder, entre outros pontos.

A droga mais consumida pelos menores de 18 anos é a maconha (90%), seguida do haxixe (25%), e do álcool (23%). O projeto foi desenvolvido em cerca de 21 localidades, sendo a maioria favelas cariocas. Foram entrevistadas 100 pessoas.

De acordo com o diretor da OIT para o Brasil, Armand Pereira, o objetivo do estudo é subsidiar pesquisas suplementares para resolver a questão do envolvimento de crianças com o tráfico de drogas, assim como identificar as variáveis que esclareçam melhor o ingresso e a participação delas nessa atividade, além de revelar esperança para o quadro caótico do tráfico por meio de entrevistas com diversos protagonistas do setor na cidade carioca.

Pereira explicou que as crianças envolvidas com o tráfico de drogas têm baixo rendimento escolar, sendo de zero até quatro anos a escolaridade delas. E que a maioria não tem religião, porém acredita na proteção divina. "A maioria é da religião Neopentecostal (30%). Em segundo lugar está a Católica (12,5%) e em terceiro a Evangélica (5%). E 50% dos entrevistados, menores de 18 anos, não possuem crença", contou.

Outros pontos ressaltados pela pesquisa foram os fatores responsáveis pela permanência das crianças no tráfico de drogas. Em primeiro lugar, no estudo, aparece o medo da ação dos policiais e dos grupos rivais (27,5%), seguido da identidade com o grupo (25%) e do dinheiro e possibilidade de consumo (17,5%), para os menores de 18 anos.

Como temores principais da atividade no tráfico de drogas aparece o risco de vida (35%), seguido da extorsão da polícia (30%) e do risco de ser preso (20%). Por último, para os menores de 18 anos, surge a questão da troca de tiros com a polícia (2,5%).

"Os entrevistados, crianças, atribuem como fatores que poderiam contribuir para a saída deles do tráfico: guardar muito dinheiro; apaixonar-se por uma pessoa honesta; um bom emprego com a mesma remuneração e outros quesitos. As questões como tornar-se um jogador de futebol e ter força de vontade aparecem no final das respostas", enfatizou Pereira. Ele lembrou, contudo, que entre os jovens, os principais fatores para deixarem as drogas são guardar muito dinheiro e ter um bom emprego com a mesma remuneração.

O coordenador do Instituto de Estudos, Trabalho e Sociedade (Iets), Pedro Américo Oliveira, informou, por sua vez, que a pesquisa faz parte de uma série de 38 estudos sobre as piores formas de trabalho infanto-juvenil que estão sendo desenvolvidos em 19 países, sendo um em área de fronteira.

"O estudo baseia-se numa metodologia que a OIT e o UNICEF desenvolveram, intitulada "Diagnóstico Ligeiro", conciliando estatística com análise qualitativa num curto período de tempo", contou.

Oliveira acredita como uma das soluções para esses problemas a implementação e o aumento de redes de proteção social no Brasil, atingindo o público brasileiro de uma forma mais integral. Disse, no entanto, que o governo federal já vem desenvolvendo algumas delas com eficiência, como o auxílio alimentação; o Bolsa-Escola; o auxílio-gás, entre outros. Acrescentou, entretanto, que é preciso desenvolver certas atividades que envolvam adrenalina, como o esporte e a cultura.

"Outros pontos que poderiam contribuir para a saída das crianças do tráfico são o apoio familiar, acompanhamento psicológico e clínico em geral, a orientação em relação ao uso de drogas pela mídia e família, e repressão à entrada de drogas no país", disse.

A pesquisa conclui também que, no período de 1996 a 2000, foram atendidos na 2ª Vara da Infância e Juventude do Rio de Janeiro 25.488 crianças e adolescentes, sendo 2.612 (11,07%) do gênero feminino e 22.876 (88,93%) do gênero masculino. E que a idade dos atendidos aumenta de forma progressiva até os 17 anos.