Em São Paulo, tradição centenária das marchinhas se renova nos blocos paulistanos

12/02/2010 - 20h21

Ivy Farias

Repórter da Agência Brasil




São Paulo - "Ó abre alas que eu quero passar. Ó abre alas que eu quero passar. Eu sou da Lira e não posso negar, Rosa de Ouro é que vai ganhar". Os versos da marchinha Abre Alas, de Chiquinha Gonzaga, estão de volta, juntamente com outras marchas que animaram carnavais passados, mas que a partir dos anos 80 deixaram de ser tocadas.

Este ano as marchinhas estão de volta. No carnaval de São Paulo, elas vão ganhar as ruas na boca dos paulistanos em blocos carnavalescos. "O paulistano tem uma certa carência deste tipo de evento. É importante ter um carnaval flexível, democrático, que preserva a essência do carnaval", afirmou o presidente da Associação de Bandas, Blocos e Cordões Carnavalescos do Município de São Paulo, Zeca Dal Secco.

Organizador do Pholia, evento que reúne o desfile de diversos blocos uma semana antes do carnaval, Dal Secco disse que o carnaval paulistano não precisa ficar restrito ao Sambódromo. "Não somos contra as escolas de samba, defendemos apenas que exista opções".

Hoje (12) três blocos fizeram a festa à moda antiga pelas ruas de São Paulo. A bateria do Ilú Obá de Min, formada por mulheres, saiu irá levantar a poeira do antigo carnaval, resgatando a cultura africano a partir do Viaduto Major Quedinho, no centro.

"Vamos mostrar uma série de linhas culturais da África, como o jongo, o banto, mostrar um pouco da cultura iourubá para a população", explicou a produtora do bloco Baby Amorin. Criado em 2004, o bloco arrastou 120 pessoas no ano passado. "Nós queremos ocupar o espaço público com arte, levar a cultura afro para as ruas de São Paulo", disse.

Segundo Baby, um dos objetivos dos criadores do bloco foi trazer mais diversidade cultural para o carnaval paulistano e elevar a autoestima das mulheres. "Temos mulheres de todas as classes sociais, somos bem diversificados. Queremos que a mulher assuma uma posição protagonista nestas duas horas de percurso pelo centro".

No centro, mais um bloco animará a festa. Criado há dois anos, o Cordão Carnavalesco Lira da Vila se concentrará amanhã (13) na Rua General Jardim, na Vila Buarque. "Vamos trazer as tradicionais marchinhas de carnaval", disse à Agência Brasil o agente cultural Henry Durante.

Para ele, São Paulo "tem um histórico de perseguição a manifestações populares". "Apesar de ser um espaço de convivência de todas as minorias, a cidade sempre reprimiu as manifestações". De acordo com Durante, o Lira, que é um bloco informal formado por moradores da Vila Buarque, chega a levar 200 pessoas atrás de sua banda. "Queremos, com o samba, furar o concreto e trazer o chão batido de terra de volta para a população".

No que depender dos pequenos leitores da Biblioteca Municipal Monteiro Lobato, a tradição centenária das marchinhas não vai morrer nunca na Vila Buarque. Hoje os foliões mirins percorreram o quarteirão da biblioteca, cantando as marchinhas criadas especialmente para o bloco formado por Emílias e Viscondes, personagens dos livros de Monteiro Lobato. "Queremos mostrar que a literatura também pode ser divertida, mostrar para as crianças que a literatura pode acontecer em pleno carnaval", disse a diretora da biblioteca, Rita Pisniski.

Criado em 2006 para celebrar os 70 anos da biblioteca, o bloco traz os personagens da série O Sítio do Pica-Pau Amarelo nas fantasias e em bonecos como os de Olinda (PE). Este ano, a homenageada é a personagem Narizinho. "Fizemos uma oficina para que eles elaborassem suas próprias fantasias de Visconde de Sabugosa e de Emília, a boneca de pano, os nossos patronos", afirmou

Para Rita Pisniski, o mais importante do Viscondes e Emílias é aproximar o universo de Monteiro Lobato não apenas das crianças e sim dos adultos. "O trajeto dura 30 minutos e somos muito bem recebidos pelos moradores, que jogam confete e serpentina Todo mundo gosta, no trânsito as pessoas tiram fotos".

 

Edição: Aécio Amado