FHC: alta da inflação é resultado da cotação do dólar

14/11/2002 - 11h38

Oxford (Inglaterra), 14 (Agência Brasil – ABr) – O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou hoje que acha cedo para se discutir um novo aumento da taxa de juros, apesar da alta dos índices de inflação registrada esta semana. Para o presidente, uma vez que a alta da inflação é resultado direto da cotação do dólar, e o valor da moeda norte-americana já começa a cair, é possível que o aumento que foi registrado não continue. "Acho cedo para falar disso (juros) porque a inflação é, basicamente, conseqüência da alta do dólar, e ele já caiu. Então, como não há indexação – e esta é a grande virtude que conseguimos para o Brasil – não há transmissão automática para todos os preços. Ela (inflação) sobe e pára neste patamar, não tem continuidade se o governo souber tomar as medidas necessárias", afirmou.

Fernando Henrique explicou as críticas feitas ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e os temores de volta da inflação no Brasil, feitas em entrevista ontem (13) à BBC Brasil. Segundo ele, as críticas foram genéricas e não específicas ao tratamento dispensado ao Brasil. "No caso do Brasil o FMI ajudou no tempo certo e o governo soube reagir também", disse. Já sobre a volta da inflação, Fernando Henrique lembrou que avalia que tudo correrá bem, desde que o novo governo mantenha a responsabilidade fiscal. "Numa situação específica é preciso disciplina fiscal. No mundo de hoje, todos os países têm que ter disciplina fiscal. (...) Agora que acabaram as eleições (que era a razão para as turbulências), depende da competência do novo governo em atender os anseios da sociedade e manter o controle da inflação", disse.

Questionado se o anúncio de membros da equipe econômica do novo governo não serviria para acalmar os mercados, o presidente lembrou que o que vale é a lei da eleição, na qual o presidente eleito tem o direito de indicar nomes no momento em que achar adequado e não por causa da pressão dos mercados. Fernando Henrique garantiu que Luiz Inácio Lula da Silva não conversou com ele sobre a escolha de nomes, nem sobre a indicação do sucessor de Armínio Fraga, no Banco Central. Sobre a possibilidade de o economista ser mantido no cargo, Fernando Henrique lembrou que essa é uma pergunta a ser feita ao próprio (Armínio) e que não quer ficar especulando sobre o assunto. "Não quero me intrometer nisso porque, daqui a pouco, vão dizer que estou querendo influenciar as decisões do novo presidente e esse não o meu objetivo. Acho que ele tem que assumir suas responsabilidades porque ele tem a delegação do povo para isso", disse.

Já sobre a alteração do seu mandato, o presidente voltou a dizer que é contra a mudança na data da posse, apesar de reconhecer que 1º de janeiro é uma data "péssima" para troca de comando. "O meu problema é com a democracia, porque um Congresso que mexe em mandato.... O povo foi quem deu o mandato. Não é algo que possa ser alterado", disse.

Fernando Henrique criticou a decisão dos Estados Unidos de proibir o Canadá de comprar frango do Brasil. Para ele, a medida só prejudica as negociações para a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e será respondida com energia pelo governo brasileiro. "A Alca, desse jeito, não sai. Ela não pode ser a continuidade do unilateralismo ou servir para regular os preços dos produtos que interessam os outros e não a nós", resumiu.