FHC: Brasil espera que europeus voltem seus olhares para mercado sul-americano

16/11/2002 - 7h35

Bávaro (República Dominicana), 16/11/2002 (Agência Brasil – ABr) – Apesar do documento final da XII Cúpula Ibero-americana não conter nenhuma condenação formal do protecionismo comercial praticado pelos grandes países, o presidente Fernando Henrique Cardoso encerra hoje sua participação no encontro com um recado claro: o Brasil condena os subsídios agrícolas concedidos pelo bloco europeu a seus países membros e espera que os europeus voltem seus olhares para o mercado sul-americano.

Para Fernando Henrique, a posição européia de subsidiar sua agricultura e não abrir perspectivas de negociação para os próximos anos, revela uma postura ultrapassada e demonstra que há temores em função da qualidade e competitividade de seus produtos frente aos sul-americanos. "Nós temos dado (atenção) à União Européia. Ela é que precisa nos dar mais atenção. (...) A tendência no mundo, dada a globalização, é de abertura de mercados e não de fechamento. Isso é uma atitude de defesa do passado. A Europa está defendendo seu passado", afirmou.

Os quinze países da União Européia decidiram não abrir as negociações para modificar a Política Agrícola Comum (PAC) até 2006 e congelaram o valor do aumento dos subsídios em 1% ao ano até 2013. Para o presidente, a medida mostra claramente que os europeus temem a concorrência direta com países como o Brasil e a Argentina. "Eles já tomaram essa decisão e isso dificulta as negociações", afirmou. O Brasil, na presidência pro-tempore do Mercosul, negocia um acordo de livre comércio entre os países do Cone Sul e o bloco europeu, mas a insistência dos europeus em não abrir o mercado para produtos agrícolas dos países do Mercosul emperra a conclusão das negociações.

Neste sentido, o presidente avaliou que o velho continente por vezes é mais protecionista que os norte-americanos. "O mercado europeu é, às vezes, mais fechado que o norte-americano. Os americanos, em certas matérias, tomam decisões unilaterais e resolvem aumentar as tarifas, mas em geral, há mais acesso ao mercado americano", disse. Isso não significa, no entanto, que o Brasil deva privilegiar as negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) às realizadas com a União Européia. Ao contrário, o presidente defende que o Brasil continue atuando por todos os lados, como vem fazendo em seu governo. "Eu não sei se é mais importante a Alca ou a União Européia, mas o Brasil precisa levar em frente todas as negociações e persistir", afirmou.

A negativa em manter a condenação escrita aos subsídios no documento final da Cúpula só foi possível em razão da forte pressão de Portugal e Espanha, que são membros da União Européia. Por outro lado, o presidente lembrou que ambos os países não são muito favoráveis à PAC. Portugal porque é beneficiada "apenas marginalmente" pela política de subsídios e a Espanha, porque "tem uma visão mais ampla sobre esta região porque tem muitos investimentos nestes países".