Brasília, 18/11/2002 (Agência Brasil - ABr) - O ministro da Saúde, Barjas Negri, garantiu hoje que o atendimento a mães e crianças na prevenção à Aids e à sífilis será "praticamente dobrado". A afirmação foi feita durante o lançamento do Projeto Nascer, no Ministério da Saúde. O objetivo do Nascer é evitar ao máximo a transmissão destas doenças por meio da contaminação vertical (da mãe para o filho), cuidando das três maneiras de contágio – durante a gestação, na hora do parto e através do leite materno.
Representantes de diversas organizações, entre elas a Unesco, a Associação Brasileira de Pediatria, e a Sociedade Brasileira de Ginecologia, além do coordenador nacional de DST/Aid, Paulo Roberto Teixeira, estiveram presentes ao evento. O lançamento do projeto foi oficializado por meio da assinatura de uma portaria.
O projeto viabiliza uma séri de medidas para 450 maternidades do Sistema Único de Saúde (SUS), em municípios considerados prioritários (que cobrem mais de 90% das regiões onde está a epidemia) e que atendam a mais de 500 partos por ano. Espera-se reduzir em pelo menos 80% as novas transmissões nos próximos seis meses.
"O que há de novidade é que, neste momento, nós vamos fazer também aquisição e distribuição do leite, para poder assistir melhor essas crianças", destacou o ministro. Essa é uma das medidas previstas pelo projeto para evitar que a mãe, contaminada pelo vírus HIV ou pela sífilis, transmita os males para a criança.
Para evitar isso, será ministrado um hormônio à mãe, a fim de secar a produção de leite materno. A criança passará a receber, então, o leite em pó. "Logo mais, esse leite vai ser distribuído por seis meses, pelo próprio governo federal, para dar tempo aos estados, enquanto estão se adaptando, fazerem suas compras e, depois, continuarem fazendo-as sistematicamente", esclareceu o coordenador de DST/Aids, a respeito da compra do leite.
Paulo Roberto Teixeira explicou que, ao saber que a mãe está contaminada por sífilis ou Aids, e que o parto poderá ser demorado, o médico deve indicar a cesariana, para não ter de passar por todo um extenso processo, durante o qual aumentam as chances da criança contrair as doenças. Ele destacou também que, durante o pre-natal, deverá ser intensificada a dose dos medicamentos. Se você faz a prevenção desde o pré-natal, as chances de contaminação diminuem, diz o técnico. "No Brasil nós fizemos a prevenção e esperamos menos de 5% de contaminação. Mas os resultados têm sido melhores, sendo ao redor de 2%", acrescentou.
O ministro Barjas Negri lembrou ainda que "os resultados não são para amanhã. Nós estamos fazendo reformas estruturais", destacou. O Ministério da Saúde investe cerca de R$ 17 milhões para os testes e tratamento das parturientes e dos recém-nascidos.
Entre quatro e cinco mil profissionais de saúde serão atingidos pelo projeto que, na sua primeira etapa, comprará 300 mil testes rápidos anti-HIV, além de 10.320 ampolas de inibidor de lactação –usada nas mães soro-positivas – e cerca de 210 mil latas de leite em pó (fórmula infantil).
As parturientes com testes positivos, serão tratadas com AZT injetável durante o trabalho de parto, e tomarão o hormônio, para secar o leite. As crianças receberão o leite em pó fórmula infantil nos primeiros seis meses de vida. Também receberão o xarope de AZT nas seis primeiras semanas de vida. Dessa forma, há redução de 25% para 2% nas chances de transmissão do HIV para o bebê.
Quando a contaminação da parturiente é pela sífilis, o procedimento é bem mais simples. Mãe, pai e criança serão tratados com penicilina. O risco dessa doença, para o bebê, está na descoberta tardia da doença. A sífilis é o maior índice de abortos e natimortos no país, destacou o coordenador de DST/Aids, Paulo Roberto.
Com o diagnóstico precoce do HIV nas maternidades e no pré-natal, os casos de aids pediátrica caíram quase 30%, desde 1999. De acordo com dados do Ministério da Saúde, existem no país cerca de 17.200 gestantes com HIV, mas o tratamento desse grupo, com AZT, não chega a seis mil casos por ano.
É importante lembrar que mais de 90% dos casos de aids entre menores de 13 anos têm como causa a transmissão vertical. Quanto à sífilis, cerca de 60 mil novos casos de sífilis congênita são estimados por ano. O que quer dizer que entre 5% e 7% das parturientes têm sífilis.
O ministro Negri lembrou ainda que esse projeto é uma medida de prevenção, e acredita que em médio prazo 17 mil crianças possam estar assistidas pelo Nascer. De acordo com o ele, o ideal é que cada mãe possa fazer no mínimo "seis exames pré-natal por ano".
IDM