Trabalhadores da Companhia Energética de Brasília entram em greve

04/11/2013 - 18h08

Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Servidores da Companhia Energética de Brasília (CEB) entraram hoje (4) em greve. De acordo com o diretor da Federação Nacional dos Urbanitários e do Sindicato dos Urbanitários no Distrito Federal (Stiu-DF), Jeová Oliveira, o movimento conta com 100% de adesão, fora o contingente de 70 pessoas destacado para trabalhar no centro de operação e nas subestações da empresa.

Os trabalhadores reivindicam abono de R$ 8,5 mil para cada um deles, a ser pago uma vez por ano, equiparação do piso salarial, atualmente de R$ 1,4 mil, ao do pessoal da Eletrobras (R$ 2 mil) e aumento salarial equivalente ao dobro do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) registrado entre novembro de 2012 e outubro de 2013. No acumulado de 12 meses, até setembro passado, esse índice – que mede a inflação para famílias com renda até cinco salários mínimos – estava em 5,69%.

“A empresa propôs apenas manutenção do acordo vigente, que seria renovado automaticamente, segundo previu a súmula do TST [Tribunal Superior do Trabalho]. Ou seja, eles não têm proposta”, disse Oliveira, referindo-se ao acordo que valeu de 2011 a 2013 com data-base em 1º de novembro. “Queremos um novo acordo com validade até 2015”, disse o sindicalista.

“A adesão à greve foi total. Descontando o contingente de 70 pessoas que estão trabalhando no centro de operação ou aguardando nas subestações (duas pessoas por subestação), chegou a 100%. Não há ninguém trabalhando na área administrativa, fora alguns diretores. Nem a manutenção preventiva está sendo feita. Por enquanto, isso não resultou em problema para a população, mas, se energia cair, certamente demorará para ser restabelecida porque o efetivo está bastante reduzido”, disse Oliveira à Agência Brasil.

O dirigente sindical explicou que boa parte das quedas constantes de energia ocorridas na cidade deve-se ao longo período de falta de investimentos na estrutura da empresa e ao efetivo, "que está aquém do mínimo necessário" para a prestação de serviços.

“Em 1989, tínhamos 2 mil trabalhadores para 380 mil clientes. Atualmente, são 1.016 trabalhadores para 950 mil clientes. Estávamos sem subestações, transformadores e linhas. O sistema até melhorou recentemente, a partir de alguns investimentos feitos pelo governo Agnelo [Queiroz, governador do Distrito Federal]. Mas a parte de pessoal continua extremamente deficitária”, argumentou. “Com o baixo número de trabalhadores e de viaturas, o tempo médio de atendimento permanece muito alto, independentemente da greve”, acrescentou.

Oliveira atibui também à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) parte da má qualidade do serviço ofertado pela CEB. “Há um problema de modelo. A população tem a ilusão de que a Aneel protege os consumidores, quando na verdade ela é uma das grandes responsáveis pelos problemas vividos pelas distribuidoras. É um modelo que, a exemplo do que ocorre na telefonia, resulta em um serviço caro, que emprega pouco”. Segundo ele, a CEB precisava ter pelo menos mil eletricistas. “Atualmente tem cerca de 300. O déficit é, no mínimo, de 700 eletricistas”, disse o sindicalista.

“Lamentamos muito que a população de Brasília se sinta prejudicada, mas pedimos seu apoio porque nosso objetivo é atendê-la da melhor forma possível. Trabalhamos há anos em número muito reduzido e, em 2013, foram registradas três mortes por acidente de trabalho. Para melhorar a qualidade do serviço, defendemos mais concurso. Se hoje os serviços não estão tão bons, é porque trabalhamos com muito sacrifício”, completou.

Dona da academia de balé Oficina da Dança, a empresária Elaine Peres, de 33 anos, disse à Agência Brasil que, nos últimos dois meses, teve prejuízo de pelo menos R$ 1,6 mil em decorrência da instabilidade da energia fornecida pela CEB. Ela disse que ouviu de um engenheiro que o problema é a falta de manutenção da caixa de luz da quadra onde funciona a academia.

“Foram pelo menos duas quedas de energia que resultaram, nos últimos dois meses, na queima de aparelhos de som, disjuntores e de lâmpadas. O prejuízo foi, no mínimo, R$ 1,6 mil. Infelizmente, não recorri porque o processo envolve muita burocracia. Não posso ficar esperando o prazo de 45 dias para a CEB fazer o laudo. Até porque eles precisam levar os equipamentos para arrumá-los. Agora, me diz: como vou dar aulas de balé se eles levarem os aparelhos de som?”, perguntou a empresária.

A Agência Brasil tentou, sem sucesso, entrar em contato com a Assessoria de Imprensa da CEB. Até o fechamento da matéria, ninguém atendeu ao telefone disponibilizado no site da empresa.

Edição: Nádia Franco

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