Paciente deve investigar se cirurgião plástico tem título de especialista

13/04/2013 - 11h45

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – O brasileiro que quiser fazer uma cirurgia plástica sem correr risco deve evitar empresas intermediadoras que ofereçam muitas facilidades, como parcelamentos em até 40 vezes, por exemplo. O alerta é do diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Regional São Paulo (SBCP-SP), Luis Henrique Ishida.

Em entrevista à Agência Brasil, ele ressaltou que o crescimento da nova classe C, motivado pelas mudanças econômicas em curso nos últimos anos no país, tem criado “problemas importantes” para os médicos da área. “Porque a classe C emergente é um público que incluiu mais de 90 milhões de pessoas nos últimos anos, que são potenciais consumidores de cirurgias plásticas. Mas ele [consumidor] não é muito bem direcionado.”

O problema, segundo Ishida, é que essas pessoas, no afã de fazerem cirurgias plásticas com as quais, muitas vezes, sonharam a vida inteira, acabam caindo nas mãos de operadoras ou intermediadoras, que fazem propaganda de médicos cuja atuação o Conselho Federal de Medicina (CFM) considera antiética e ilegal.

São empresas em que “uma pessoa atende e outra opera”, denunciou o médico. Não há, segundo ele, nenhuma relação estabelecida entre médico e paciente como deve ser, e nenhum padrão de controle. “Essa mudança econômica, com esse perfil de que se tem uma mente aberta para a cirurgia plástica, acaba sendo perigosa do ponto de vista de saúde pública para esse paciente que vai [submeter-se à] cirurgia plástica a partir de agora”.

Além de expostos ao risco de morte, ao passar por procedimentos feitos por médicos que não são cirurgiões plásticos, os pacientes podem ficar com sequelas graves. Problemas funcionais, como paralisia facial, além de outros relacionados à própria cirurgia, entre os quais a má cicatrização e os maus resultados, são algumas dessas sequelas. Ishida destacou que, para quem não está satisfeito com a imagem, ficar pior do que já é torna-se a coisa mais terrível que pode acontecer, “porque estraga a vida da pessoa”.

Existe uma padronização de certificados do cirurgião plástico com título de especialista que valida a habilitação de um bom profissional. Para saber se o médico tem título de especialista, a pessoa pode recorrer ao site da SBCP e fazer a consulta pelo nome do cirurgião. “Sendo cirurgião plástico, já é meio caminho andado, já passa uma segurança muito maior para o procedimento que se quer fazer”. A providência constitui um mecanismo prévio de defesa do consumidor, disse Ishida.

Levantamento do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) revela que, de janeiro de 2001 a julho de 2008, 97% dos processos motivados por cirurgias plásticas foram abertos contra médicos sem título de especialista. De acordo com a pesquisa, 48% dos processados não tinham título de nenhuma especialidade médica, 49,5% eram de outras especialidades não relacionadas à cirurgia plástica e apenas 2,1% eram cirurgiões plásticos.

Luis Henrique Ishida informou que a legislação brasileira abre possibilidade para que profissionais de outras especialidades façam cirurgias plásticas. “A legislação brasileira permite que qualquer médico exerça qualquer área”. Com isso, é aberta uma brecha para que dermatologistas, anestesistas e até ortopedistas façam cirurgias plásticas no país, disse o diretor da SBCP-SP.

Ele ressaltou que, para o leigo, a cirurgia plástica pode parecer um procedimento mais simples. “Muito pelo contrário. É o mais complexo. É a especialidade cirúrgica que tem a residência [período de especialização, que o médico faz depois de formado] mais longa entre todas, junto com a neurocirurgia e a cirurgia cardíaca. É realmente um problema de saúde pública.”

Para obter o título de especialista em cirurgia plástica, o médico tem de fazer dois anos de residência em cirurgia geral e mais três anos em cirurgia plástica. No entanto, Ishida considera que nem mesmo os 11 anos de estudo (seis do curso de medicina e cinco de residência em cirurgia geral e cirurgia plástica) “são suficientes para formar um cirurgião plástico competente”. Além do longo período de estudos, o profissional passa por um exame de qualificação teórico e prático conduzido pela SBCP, para obter o certificado de especialista, e manter uma educação continuada.

Edição: Tereza Barbosa

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