Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Somente 45 anos depois da criação do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), receber um diploma da instituição deixou de ser uma condição exclusiva para homens. Em 1996, duas mulheres, pela primeira vez, foram aprovadas no ITA. Naquela época, quatro foram selecionadas, mas somente duas fizeram a matrícula. Elas foram diplomadas no ano 2000. Hoje, o número de mulheres aprovadas no vestibular mais que dobrou, na comparação com o primeiro ano, mas ainda representa apenas 8,3% do total de ingressos.
Ana Carla Fernandes, 20 anos, é uma das dez alunas selecionadas para o instituto este ano, das 120 vagas existentes. Ela conta que, apesar de ouvir comentários sobre as possíveis dificuldades de optar por uma carreira tradicionalmente masculina, a aptidão com a área de exatas fez com que escolhesse o curso de engenharia civil aeronáutica no ITA. “Isso nunca foi um empecilho para mim. Eu acreditava que levava jeito para exatas, então achei que poderia me destacar, sendo no meio de homens ou de mulheres".
Nos últimos dez anos, 113 mulheres ingressaram na instituição. O menor número de aprovadas ocorreu em 2011, quando seis concorrentes foram selecionadas. Nos anos de 2005 e 2007, foram registrados os maiores números de aprovações femininas, 16 entraram para os cursos de engenharia. Atualmente, dos 507 alunos do ITA, 466 são homens e 41, mulheres.
A professora Sílvia Matravolgyi, coordenadora da Divisão de Alunos da instituição, reconhece que ainda é baixo o número de mulheres no instituto, mas avalia que esse quadro segue uma tendência nacional dos cursos de engenharia no país. "Não é uma característica do ITA. Se for olhar nos cursos a fora, o comum ainda hoje é que as engenharias sejam mais procuradas por meninos".
Ela espera que isso possa ser revertido com o tempo e com a maior divulgação da carreira entre o público feminino. "É essencial hoje em todos os segmentos da sociedade que se tenha uma presença equitativa de homens e mulheres. No mundo de hoje não faz mais sentido a gente ter áreas que não são contempladas dessa forma", avalia. A coordenadora acredita que, com isso, a instituição se moderniza e cria-se um ambiente mais saudável e favorável ao aprendizado.
O vestibular do ITA é conhecido como um dos mais difíceis e disputados do país. A concorrência, em média, chega a 60 candidatos por vaga. Sílvia destaca que o desempenho acadêmico das mulheres no ITA, em geral, é muito bem avaliado. "Ao longo da história do ITA poucas alunas demonstraram dificuldades. A gente observa que a meninas levam o curso com muita seriedade", declarou.
Mayara Condé, que se formou no ITA em 2011 e hoje é professora da instituição, acredita que isso pode estar relacionado ao fato de que as mulheres são levadas a se qualificar mais para superar preconceitos que possam existir na área. "A gente acaba tendo que fazer mais para mostrar que nós somos competentes e podemos fazer determinada ação que tradicionalmente era feita por homens", avaliou.
Ana Carla concorda que a dedicação entre as mulheres é maior porque existe uma prévia desconfiança sobre a competência feminina em postos de liderança e áreas tradicionalmente masculinas. "Nós, as mulheres dessa geração, vamos ter que trabalhar mais para quebrar esses paradigmas e conseguir abrir espaço para que as próximas não sofram esse preconceito. A gente precisa se destacar o dobro, para que não me olhem apenas como uma mulher no ITA, mas como uma futura engenheira que vai fazer a diferença para o país. É assim que eu quero ser olhada".
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Edição: Tereza Barbosa e José Romildo
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