Problemas sociais são visíveis na Índia, mesmo com crescimento econômico

17/10/2008 - 13h09

Vitor Abdala
Enviado especial
Nova Delhi (Índia) - Trânsito caótico,poluição, má conservação deprédios e ruas, medo de ataques terroristas e pobreza sãocaracterísticas visíveis para quem visita Nova Delhi, capital da Índia, um dos países mais promissores aosolhos do Ocidente, com uma economia de US$ 900 bilhões quecresce em média 9% ao ano, de acordo com o BancoMundial. E que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou nesta semana.Com uma populaçãode aproximadamente 15 milhões de pessoas, segundo dados de2005 das Nações Unidas, Nova Delhi possui tambémuma grande quantidade de veículos em circulação.Em um trânsito aparentemente sem regras, em que veículosconstantemente trocam de faixa sem sinalizar e desrespeitam sinais detrânsito, carros dividem espaço com bicicletas, motos ediversos carros de três rodas com capacidade para transportarde cinco a oito passageiros, conhecidos como tuc-tucs.Os tuc-tucs sãoo principal meio de transporte coletivo na Índia e, écomum ver os carros transportando mais passageiros que a capacidade.Alguns tuc-tucs de oito lugares chegam a levar até 18pessoas. Como eles não têm porta, os passageiros seamontoam muitas vezes deixando partes do corpo do lado de fora doautomóvel. Em meio ao trânsitocomplicado, a buzina acaba se tornando um acessórioprimordial. A poluição sonora faz parte da rotina dosindianos.A arquitetura de NovaDelhi, que privilegia as rotatórias, em vez de cruzamentos, oque faz com que se reduza o número de sinais de trânsitoe, assim, se crie um fator de risco para o pedestre. Para atravessar as ruas,muitas vezes, as pessoas têm que se arriscar no meio dos carrosem movimento.A pobreza éoutro elemento visível para quem visita Nova Delhi. Écomum ver famílias inteiras deitadas no chão e pessoaspedindo esmolas nas ruas, oferecendo serviços como o de guiasou trabalhando no setor informal. Segundo o Ministério doTrabalho indiano, 93% dos cerca de 400 milhões detrabalhadores da Índia (de uma população de 1,1bilhão de pessoas) não têm emprego formalizado.Isso inclui uma grandemassa de jovens. Em uma caminhada de cerca de um quilômetro pelo centro deNova Delhi, a reportagem da Agência Brasil foi abordada,em momentos diferentes, por dois adolescentes. Os dois tinhamhistórias semelhantes. Ambos vinham de Jaipur, cidade noestado do Rajastão,próximo de Delhi, onde deixaram suas famílias paratentar a vida na capital.Eles eram estudantes e seofereciam para servir de guia pela cidade. Um deles, apesar deinsistir na oferta, não chegou a pedir dinheiro. Já osegundo, ao ver que não teria seu serviço aceito, pediudinheiro para comprar um livro.O medo de ataquesterroristas também é percebido por quem visita a Índia,nação de inúmeros grupos étnico-religiosos,como hindus, muçulmanos e sikhs, e vizinha do Paquistão,país com o qual mantém uma histórica rivalidade. Atentados em NovaDelhi, Mumbai e Jaipur, por exemplo, já deixaram centenas demortos. Por isso, seguranças nos portões de prédiospúblicos e hotéis vasculham, com detectores deexplosivos, cada carro que entra nesses locais."Aqui na Índiatem muita pobreza e grande parte da população ainda éanalfabeta. E com essa crise econômica, isso pode ficar aindapior. A economia da Índia não está recebendo bemessa crise. Já há desemprego por causa disso",afirma o guia turístico Shakil Uddin, que trabalha no ramo há25 anos.A crise à que serefere Uddin já aparece nas páginas dos jornaisindianos. No Hindustan Times, por exemplo, a reportagemprincipal do caderno de economia traz a manchete "Economia naencruzilhada" e destaca pontos como a desvalorizaçãoda rúpia, moeda local, e como a desconfiança dos bancosindianos em conceder empréstimos.A Índia tem maisde 1,1 bilhão de habitantes e 3,2 milhões dequilômetros quadrados de superfície. Além doinglês e do hindi, o país tem outras 14 línguasoficiais. Sua independência só foi conseguida em 1947,quando se libertou do domínio britânico.