Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O governo federal não fez os planejamentos necessários e deixou de investir na área de abastecimento de energia, mesmo depois do episódio de racionamento verificado no Brasil, em 2001. A análise foi feita pelo físico Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“[O governo] não completou o dever de casa. Ficaram faltando algumas questões que não foram respondidas”, avaliou.
Embora o Brasil possua uma das maioresbacias hidrográficas do mundo, as hidrelétricas existentes no país nãobastam para atender ao consumo. Isso se deve, segundo frisou Pinguelli,à falta de investimentos.
“Nós não temos mais o número dehidrelétricas necessárias para fazer face a esse problema. Isso já foiuma política anterior, que o governo atual seguiu. E aí você precisa determelétricas para complementá-las quando for preciso, como ocorreagora. Mas aí faltou o gás natural, porque também houve uma políticadesentrosada entre o gás natural e a energia elétrica. Sem dúvida, sãoerros de planejamento”, sinalizou.
O maior “desbalanceamento” é identificado, segundo Pinguelli, no chamado consumidor livre, cujo percentual no passado era de 10% do consumo de energia e hoje se situa na faixa entre 25% a 30% do total. “São grandes indústrias que não são submetidas ao planejamento. Elas têm contratos variados, utilizando energia do sistema.”
É considerado consumidor livre aquele que tenha exercido a opção de compra de energia elétrica de fornecedor distinto da concessionária local de distribuição, ou seja, de produtores independentes. Para Pinguelli, enquanto a energia é livremente negociada para o consumidor livre, o consumidor cativo absorve erros e acertos do planejamento centralizado do governo e da distribuidora.
O diretor da Coppe criticou a existência do consumidor livre, que levou à criação de uma figura não prevista inicialmente: a comercializadora de energia que, segundo ele, "entra no meio e vende a energia do sistema, que nós todos consumimos, para esses grandes consumidores. Mas vende de uma forma aleatória, em contratos variáveis, que não são públicos. Então, você perdeu a informação para ter o planejamento”.
Pinguelli afirmou que o planejamento não foi adequado porque faltava informação, em particular, da parte do consumidor livre.
Outra questão que não foi resolvida pelo governo é o problema do gás. “Foi muito mal equacionada a combinação entre gás natural e energia hidrelétrica. E está dependendo agora da importação de gás liquefeito de petróleo (GNL) pela Petrobras”, disse Pingueli.
A primeira usina de regaseificação de GNL da Petrobras tem inauguração prevista para maio deste ano. Pinguelli disse que a entrada em operação dessa unidade “alivia o problema do gás porque permite usar mais termelétricas”. O gás natural é o combustível mais adequado para as térmicas brasileiras em razão do custo mais barato, destacou.
Luiz Pinguelli Rosa analisou que os investimentos programados para o setor elétrico sofreram muito atraso. Um exemplo notório, segundo ele, é o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa).
“Uma boa iniciativa de geração eólica (dos ventos), pequenas centrais hidrelétricas, de uso de biomassa e que, infelizmente, atrasou muito. Metade das eólicas não saiu do papel. Isso é ruim porque não é tão pouco”, criticou.
De acordo com Pinguelli, as usinas eólicas prevêem a geração de 3,3 mil megawatts, enquanto a usina nuclear de Angra 3 vai gerar 1,35 mil megawatts. Ele citou também problemas ambientais que retardaram o licenciamento de usinas hidrelétricas importantes, como Santo Antonio, no Rio Madeira.
Pinguelli avaliou que o crescimento previsto para o Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma das riquezas produzidas no país, levará a um aumento do consumo de energia elétrica. E a oferta de energia será insuficiente para atender à demanda. “Esse é um dos fatores que estão presentes na possibilidade de falta de energia daqui a um ou dois anos. Daí a antecipação da ligação das termelétricas para enfrentar esse problema.”
Luiz Pinguelli afirmou, porém, que o crescimento econômico é positivo. Ele salientou que cabe ao governo encontrar a solução para o impasse “porque senão você estrangula o crescimento por falta de energia”.
A resolução do problema passa pela construção de novas hidrelétricas de grande porte, como as de Santo Antonio e Jirau, no Rio Madeira, sinalizou o diretor da Coppe/UFRJ. Ele destacou, por outro lado, que essas usinas não vão resolver a crise atual. "Elas vão evitar crises futuras”, avaliou.