Sem novas usinas elétricas, país corre risco de apagão em 2008, diz Pinguelli

31/10/2005 - 18h28

Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil

Rio – Se a economia mantiver o atual ritmo de crescimento e não forem feitos investimentos emergenciais no setor elétrico, o Brasil pode sofrer um novo racionamento de energia em um prazo de três a quatro anos. A avaliação é do físico Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Eletrobrás

Em entrevista à Agência Brasil, Pinguelli alertou para o risco de novo apagão se continuar em torno de 3,5% ao ano o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) – soma de todas as riquezas produzidas pelo país. Em 1999, o país sofreu um apagão.

Com mestrado em engenharia nuclear, Pinguelli também comenta o projeto do governo federal de concluir a usina de Angra 3. Segundo ele, a energia nuclear deve ser pensada dentro de um planejamento geral de política energética. Atualmente, Pinquelli Rosa é secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia.

Agência Brasil: Existe a possibilidade da ocorrência de um novo apagão, assim como aconteceu no governo Fernando Henrique Cardoso?

Luiz Pinguelli Rosa: Há. E o fato de a Petrobras ter aumentado o provisionamento do gás para as térmicas já é um indício desta possibilidade. E está faltando gás. O que indica um problema de desequilíbrio de oferta devido à falta de investimentos adequados e da não realização de obras de energia elétrica.

Abr: O senhor acredita então que existe, realmente, a possibilidade de um apagão no curto prazo?

Pinguelli: Se não forem tomadas as providências necessárias e construídas as novas usinas necessárias ao atendimento à demanda, sim há.

Abr: De quanto seria este curto prazo?

Pinguelli: De três a quatro anos, se for mantido o ritmo de crescimento atual. Se ele for mantido, é preciso que sejam tomadas de medidas emergências o mais rapidamente possível, até porque uma usina demanda tempo para ser construída – três a cinco anos.

Abr: Com relação à possibilidade de construção da Usina de Angra 3, parece que já uma tendência no governo favorável à continuidade do nosso programa nuclear, como o senhor vê esta questão?

Pinguelli: Na minha avaliação, falta ao país uma política de energia elétrica para incluir a nuclear. Não se pode ter uma política nuclear isolada. Isto é um grande equivoco. Eu acho que está tudo errado. Falta política de energia no governo. Então esta discussão da nuclear isoladamente é um equivoco.

Abr: O senhor acha, então, que devem ser tomadas medidas emergenciais no plano energético?

Pinguelli: A nuclear é também uma forma de energia elétrica. E têm outras. Então nós temos que saber qual é a inserção dela. E não ter um programa nuclear isoladamente. Agora, eu não acho que a energia nuclear seja a solução para este problema. Ela pode servir também, mas há outras formas variadas de energia elétrica, sendo que eu acho a hidrelétrica a mais importante disponível no país.