Núcleo de Pesquisa da Radiobrás
Brasília - Yasser Arafat, líder da Autoridade Palestina, um dos personagens mais polêmicos do século 20 por sua luta pela criação do Estado Palestino, era um dos sete filhos de um comerciante da cidade do Cairo, no Egito. Ele nasceu em 24 de agosto de 1929, segundo sua certidão de nascimento revelada pela Universidade do Cairo, onde cursou Engenharia Civil.
A data e o local de nascimento do líder foram objeto de polêmica entre diversos biógrafos pois, segundo o próprio Arafat, ele teria nascido em 4 de agosto de 1929 em Jerusalém. O líder viveu a maior parte da sua infância no Cairo, com exceção de quatro anos (após a morte de sua mãe, entre os seus 5 e 9 anos) em que viveu com um tio em Jerusalém.
Ainda nos tempos de estudante de engenharia, Arafat filiou-se à Irmandade Islâmica e à associação de estudantes, da qual foi presidente entre 1952 e 1956. No Cairo, ele conheceu e se tornou amigo próximo de Mohammad Amin al-Husayni (1895-1974), também apelidado de al-Husseini, líder nacionalista palestino e líder religioso muçulmano, membro de uma das famílias mais proeminentes de Jerusalém. Al-Husseini desempenhou importante papel na resistência árabe às ambições políticas israelenses na Palestina e no recrutamento de muçulmanos para combater ao lado do exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial.
Em 1956, Arafat serviu no exército egípcio durante a crise do Canal de Suez. Após a guerra foi viver no Kuwait, onde trabalhou como engenheiro civil até fundar sua própria empresa. No Kuwait ele esteve também envolvido na criação da Fatah, uma organização dedicada ao estabelecimento de um Estado palestino independente. A Fatah foi contratada pela Síria para levar a cabo sua primeira operação militar em dezembro de 1964 - fazer explodir uma bomba de abastecimento de água. O ataque foi um fracasso. No entanto, após a Guerra dos Seis Dias de 1967, os governos árabes passaram a se interessar mais pelas organizações palestinas, entre elas a Fatah, cujas atividades passariam a financiar.
Depois da guerra dos seis dias de 1967, Arafat e a Fatah passaram a atuar a partir da Jordânia, lançando ataques contra Israel a partir do outro lado da fronteira e regressando à Jordânia antes que os israelenses pudessem reagir.
Em 1968 a Fatah foi alvo de um ataque israelense à vila jordaniana de Karameh, no qual morreram 150 guerrilheiros palestinos e 29 soldados israelenses. Apesar da aparente derrota, a batalha foi considerada pelos árabes como um exemplo para a ação da Fatah porque os israelenses acabaram se retirando da região e o prestígio de Arafat e de sua organização cresceram. No final da década de 1960, a Fatah passou a controlar a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e em 1969 Arafat foi nomeado presidente da OLP, substituindo Ahmed Shukairy, originalmente nomeado pela Liga Árabe. Arafat tornou-se chefe do Estado Maior das Forças Revolucionárias Palestinas e, em 1973, foi escolhido como líder político, cargo que ocupou até sua morte.
Sob seu comando e com o apoio da União Soviética, a OLP tenta transformar a Jordânia num estado palestino, o que faz crescer as tensões entre palestinos e o governo da Jordânia, culminando com o seqüestro e subseqüente destruição de quatro aviões daquele país pela OLP. Na Guerra Civil da Jordania (1970-1971), a monarquia jordaniana, com a ajuda de Israel, derrotou a OLP e a Síria, que se preparava para invadir a Jordânia em apoio à organização.
Depois dessa derrota, Arafat transferiu-se, juntamente com a OLP da Jordânia, para o Líbano onde a organização conseguia operar virtualmente como um estado independente (chamado "Fatahland" pelos israelenses). A OLP começou então a usar esse novo território para lançar ataques contra territórios israelenses. Em setembro de 1972, o grupo chamado Setembro Negro, descrito pela mídia ocidental como uma fachada operacional usada pelo grupo Fatah de Arafat, sequestrou 11 atletas israelenses durante os Jogos Olímpicos da Alemanha. No confronto com a polícia que invadiu o local, os atletas foram mortos, o que ficou conhecido como o "Massacre de Munique".
A condenação internacional do ataque fez com que Arafat, em 1974, se declarasse publicamente contra tais ações e ordenasse que a OLP se abstivesse de atos de violência fora de Israel, da Margem Ocidental do Rio Jordão e da Faixa de Gaza. No mesmo ano, Arafat tornou-se o primeiro representante de uma organização não-governamental a discursar em sessão plenária de uma Assembléia Geral das Nações Unidas.
Em 1974, líderes de estados árabes declararam a OLP como o único representante legítimo de todos os palestinos e em 1976 a OLP foi admitida como membro da Liga Árabe.
No Líbano, a OLP, atuando ao lado de forças progressistas de esquerda, enfrenta violenta oposição do exército sul-libanês apoiado por tropas israelenses e por grupos pára-militares que invadem o sul do país deflagrando uma guerra civil. Em junho de 1982, Beirute foi cercada pelas tropas e sob influência americana, foi negociado um cessar-fogo que permitiu a Arafat e à OLP fugirem para a Tunísia, onde permaneceriam até 1993.
Em Tunis, em 1985, as instalações da OLP foram bombardeadas por aviões israelenses que causaram a morte de mais de 60 colaboradores de Arafat, mas ele conseguiu escapar. Em 1988, o líder palestino perde seu comandante militar Abu Jihad, assassinado por um comando israelense. Pressionado pelo governo americano que queria iniciar negociações de paz, em dezembro do mesmo ano Arafat renuncia à luta armada.
Durante a década de 80, a OLP negocia o apoio do Iraque, sob o comando de Saddam Hussein, à causa palestina. Em 1991, quando o Iraque invade o Kuwait, Arafat o apóia. Com a derrota de Saddam na primeira Guerra do Golfo, a OLP sofre um isolamento internacional. Esse apoio privou a OLP de grande parte de suas fontes de renda, já que a entidade era financiada por governos de países árabes que se opuseram ao expansionismo de Saddam.
Com a derrota do Iraque, a OLP ficou sem aliados e sem dinheiro, e Arafat acabou sendo forçado a fechar acordos com Israel sob termos nem sempre considerados aceitáveis por seus comandados.
Em novembro de 1991 Arafat casou-se secretamente com uma palestina cristã, Suha Arafat, com quem teve uma filha. Sua esposa e filha vivem atualmente em Paris e recentemente receberam a cidadania francesa .
Em 1993, finalmente Israel admite a existência de um Estado Palestino circunscrito à faixa de Gaza e a uma parcela da margem ocidental do Rio Jordão, em um acordo firmado na Casa Branca entre o primeiro-ministro Yitzhak Rabin e Yasser Arafat.
Em 1º de julho de 1994, após 26 anos de exílio, o líder pisa pela primeira vez em solo palestino. Em dezembro do mesmo ano, Arafat, Rabin e Shimon Peres, ministro do Exterior israelense, ganham o Prêmio Nobel da Paz. Menos de um ano depois, em novembro de 1995, Yitzhak Rabin é assassinado em Telavive por grupos ultra-direitistas israelenses que nunca aceitaram o acordo com os palestinos.
Em 1996, na primeira eleição do estado palestino, Arafat é eleito presidente da Autoridade Palestina com 87% dos votos.
Em meados de 1996, após a eleição de Benjamin Netanyahu como primeiro-ministro de Israel, as relaçőes com aquele país tornaram-se mais hostis. Benjamin Netanyahu tentou obstruir a transição para o Estado palestino delineada no acordo OLP-Israel. Em 1988, o presidente americano Bill Clinton interveio, arranjando um encontro com os dois líderes. O resultado desse encontro, o "Memorandum de Wye River", detalhava os passos a serem tomados pelo governo israelense e pela OLP para completar o processo de paz.
Em julho de 2000, Arafat continuou as negociaçőes com o sucessor de Netanyahu, Ehud Barak. Em parte devido à sua própria política (Barak pertencia ao Partido Trabalhista, enquanto que Netanyahu ao partido conservador Likud) e parcialmente devido à grande pressão colocada pelo presidente americano Bill Clinton, Barak ofereceu a Arafat um Estado palestino na Margem Ocidental e na Faixa de Gaza com Jerusalém Leste como capital, o regresso de um número limitado de refugiados e uma compensação para os restantes, mas não chegaram a um acordo sobre outros assuntos, tidos como vitais para um processo de paz.
Durante a década de 90, outros grupos iniciam a luta armada contra Israel, entre eles o Hamas e a Jirad Islâmica, ambos fundamentalistas, passando a concorrer com a Fatah e nem sempre se submetendo à autoridade do líder palestino. Do lado de Israel, Ariel Sharon, inimigo de Arafat desde a invasão do Líbano, quando comandava as Forças Armadas israelenses, assume o governo decidido a acabar com a resistência palestina.
Em março de 2002, a Liga Árabe fez a proposta de reconhecer Israel em troca da retirada de todos os territórios capturados na Guerra dos Seis Dias e o reconhecimento da soberania da Autoridade Palestina de Arafat. Divididos, membros do governo israelense apoiaram a idéia vendo nela o histórico reconhecimento de Israel pelos Estados Árabes. Críticos da proposta, entre eles Ariel Sharon, afirmaram que ela constituiria um perigo para a segurança de Israel, não assegurando o fim dos confrontos.
Na seqüência de violentos e constantes enfrentamentos entre o exército de Israel e grupos palestinos, Sharon declara Arafat inimigo de Israel e determina o bombardeio da cidade de Ramallah, confinando o líder palestino nas ruínas do que sobrou do prédio da Autoridade Palestina. Mesmo cercado pelas tropas israelenses, Arafat não se entrega e sua resistência torna-se símbolo da determinação de construir o Estado palestino.
Em 2002, George Bush e Ariel Sharon, numa tentativa de enfraquecer a liderança política de Arafat, articulam sua substituição por Mahmoud Abbas, membro do parlamento palestino, para assumir a presidência da Autoridade Palestina, com a promessa de reconhecerem a autonomia do Estado palestino a partir de 2005. Enfraquecido e não reconhecido como líder, Abbas renuncia em setembro de 2003 em favor de Ahmed Qureia, outro membro do parlamento palestino.
Devido ao grande apoio e prestígio internacionais e com medo de transformá-lo num mártir da causa palestina, Israel é obrigado a aceitar a sobrevivência de Arafat. Cercado por tropas israelenses, recluso nas ruínas, vivendo em péssimas condições de higiene, ele é acometido por uma grastroenterite em outubro de 2003. Decorrido um ano, o líder palestino resistiu à doença em seu exílio, dentro de seu país, sem nunca se entregar até que, em 27 de outubro passado, médicos palestinos das Forças Armadas diagnosticaram uma nova e fatal gastroenterite, transferindo-o para um hospital.