Negociações entre Brasil e China ainda não têm acordo sobre carne bovina

11/11/2004 - 19h11

Lana Cristina
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Brasil e China definiram os protocolos sanitários e fitossanitários de vários itens da pauta de comércio exterior entre os dois países, hoje, depois de dois dias de intensa reunião. De acordo com o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, a negociação ficou pendente quanto à questão da carne bovina, em função de um detalhe que ele preferiu não revelar. Os protocolos relativos à carne suína, frango e vegetais foram definidos após exaustivo debate entre a delegação chinesa e a equipe técnica do ministério da Agricultura.

"Falta uma pinimba para resolver a questão da carne", contou Rodrigues, ao final da segunda rodada de uma negociação, que começou ontem (10), e que incluiu outros itens da pauta de comércio sino-brasileira. Na primeira reunião, que se estendeu até à meia-noite, não houve avanço relativo aos protocolos, que haviam sido elaborados por técnicos brasileiros e chineses há duas semanas.

Segundo o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Luiz Fernando Furlan, a equipe brasileira apresentou a sugestão de ampliar a pauta brasileira de exportação para a China, hoje concentrada em soja e minério. "Queremos ter participação no sistema de automação bancária de lá, inclusive produzindo equipamentos na China", explicou Furlan. No esforço de chegar a um ponto de equilíbrio, Furlan disse que ambas as partes concordaram em ceder no quesito infra-estrutura. "Se uma empresa estrangeira precisa fazer uma joint venture com empresa local na China para se instalar lá, aqui também será assim", acrescentou.

Furlan se mostrou irritado com estilo chinês de negociação, que, segundo ele, requer o exercício da paciência. "Com relação à carne bovina, por exemplo: eles não queriam se comprometer com a questão sanitária da carne bovina, o Roberto (ministro Roberto Rodrigues) insistiu no assunto e a gente espera que ele seja incluído num acordo. (...) A negociação (com os chineses) é igual pescaria, você joga a isca, quando parece que pegou, joga um pouco de linha, ela arrebenta e vai indo, vai indo, vai indo, é um jogo de paciência", relatou Furlan.

O ministro do Desenvolvimento não gostou da maneira como a vice-ministra chinesa de Comércio, Ma Xiuhong, conduziu as negociações relativas à exigência de seu país em ser considerado uma economia de mercado. "Eles têm fixação de que o Brasil reconheça a China plenamente como economia de mercado. Eu falei pra ela (a vice-ministra) que ela já tinha falado isso, entre ontem e hoje, umas 28 vezes, e que eu já tinha entendido", revelou. Para Furlan, para que seja reconhecida como economia de mercado, a China tem que se pautar pelas regras internacionais de mercado e não pela imposição de barreiras sanitárias.

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse que houve sucesso também na negociação relativa a envoltórios naturais (tripas) que a China quer comercializar para o Brasil. Os acordos sanitários para os produtos agropecuários da pauta de comércio sino-brasileira foram fechados com a participação do ministro da Administração Geral da Supervisão da Qualidade, Inspeção e Quarentena da China, Li Chiangjiang.

A previsão é de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente da China, Hu Jintao, que chegou hoje (11) ao Brasil, assinem os protocolos durante a visita oficial do presidente chinês. A visita de Jintao durará seis dias. Com a definição dos protocolos, o comércio bilateral de produtos agropecuários, entre os dois países, será facilitado. As negociações envolvem exportação de carne bovina, aves, frutas cítricas, soja e óleo de soja do Brasil para o país asiático. A China tem interesse em exportar para o Brasil envoltórios naturais, as frutas longan e lichia, além de pescado.

A China é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, que espera elevar para US$ 10 bilhões, em 2005, a corrente de comércio com a China. As vendas do Brasil para a China, no entanto, correspondem a apenas a 1% do que o país asiático compra mundialmente, algo em torno de US$ 450 bilhões ao ano.