Cristina Indio do Brasil
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A campanha "Rio sem preconceito", lançada hoje (15) pela Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual da prefeitura do Rio (Ceds), levanta a discussão sobre a importância do cidadão na luta contra o preconceito. O lema da campanha deste ano é: "Eu não preciso ser negro para lutar contra o racismo, não preciso ser mulher para lutar contra o machismo, não preciso ser judeu para lutar contra o antissemitismo e você não precisa ser gay para lutar contra a homofobia".
Segundo a coordenadoria, a data de 15 de maio foi escolhida por estar próxima de comemorações relevantes. O dia 13 de maio marca a abolição da escravatura e a luta contra a intolerância racial e o 17, a luta mundial contra a homofobia.
Segundo o coordenador especial da Diversidade Sexual da prefeitura do Rio, Carlos Tufvesson, no primeiro ano, o foco da campanha foi esclarecer o que era preconceito, ano passado, um samba composto por Arlindo Cruz e Luana Carvalho chamou as pessoas para lutarem contra o preconceito e, este ano, a intenção é destacar a participação do cidadão.
"O racismo nos ofende como cidadão e me agride como cidadão. Eu tenho que interferir. Isso é um problema nosso. Não preciso ser negro para ser contra o racismo. Da mesma forma que o machismo incomoda. As agressões que crescem a cada dia é um problema meu sim, apesar de não ser mulher. Da mesma maneira que não precisa ser homossexual para lutar contra a homofobia. A cada 23 horas, morre um homossexual vítima de crimes de ódio. Esses índices têm aumentado a cada ano e todos nós temos que fazer alguma coisa. É uma coisa que atinge o princípio da dignidade da pessoa humana", explicou Tufvesson.
Para Tufvesson, a campanha lançada hoje mostra como o papel do cidadão como um agente transformador para uma sociedade melhor. "Isso só acontece por meio da denúncia do cidadão exercendo a cidadania, não permitindo cenas de intolerância e de preconceito na nossa cidade, no nosso país. A pessoa que é homofóbica, é também racista e também tem intolerância religiosa. O problema do intolerante é ele achar que o seu modo de vida tem que ser imposto a toda uma sociedade. Ele não respeita outra maneira de pensar. Imagina em um país com tantos partidos, tantas religiões, tantos times de futebol. A gente tem que fazer essa reflexão", disse.
O conselheiro do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap), Ivanir dos Santos, acredita que é importante a campanha ser tão abrangente. "Uma campanha como essa ajuda a aumentar a consciência da população. Você levar o ser humano a ser solidário a qualquer segmento. Não precisa passar pelo problema, precisa ter sensibilidade e entender os direitos de luta do outro ser", disse.
Santos disse que, do ponto de vista racial, apesar dos avanços ocorridos no Brasil, ainda não está satisfatório. Ele defende que as campanhas tenham sempre a função educacional. "Para mudar uma mentalidade leva uma geração. É um trabalho que tem que ser feito desde as crianças. A campanha é boa e eficiente, mas não consegue mudar do dia para a noite. Mudar valores não é fácil. Quanto tempo se luta contra o antissemitismo e ainda se pega pessoas que são antissemitas? Isso mostra que tem que fazer um trabalho muito forte no campo da educação", disse.
Para o rabino da Congregação Judaica do Brasil, Nilton Bender, é relevante a ideia da campanha de fazer o público perceber que brigar por todas as minorias é de interesse de todos, da democracia e dos direitos humanos. Na avaliação dele, é uma qualidade que o Brasil tem de uma forma bem diferenciada. "Acho muito feliz porque sai do particular para o universal e convida as pessoas a terem o cuidado como se fosse relativo a elas mesmas. É uma maneira muito bonita de convocar todos. Não é só o interesse desses grupos que está em jogo", analisou.
Edição: Fábio Massalli
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