Kelly Oliveira *
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Uma boneca de pano e a ideia de trabalhar a aceitação e o respeito a pessoas com deficiência mudou a realidade de alunos do primeiro ano da Escola Estadual de Ensino Médio Albatroz, em Osório (RS). Autora do projeto, a professora Iara Teresinha Ribeiro conta que decidiu usar a internet como ferramenta de alfabetização das crianças e, com isso, teve a ideia de criar uma amiga virtual dos alunos.
“Eles brigavam em sala e não se aceitavam. Viram crianças [com deficiências em pesquisas na internet] e se chocaram”, contou. “Como as crianças precisam tocar, criamos a boneca de pano”, disse. Os alunos deram à boneca o nome de Melinda Estrela e aprenderam que a “nova estudante”, com deficiência, devia receber atenção e cuidado dos colegas. Nos finais de semana, os alunos levam a boneca para casa, o que envolveu as famílias no projeto. “Quando eles iam levar a Melinda para a casa, eu avisava: ela não gosta de brigar e de palavrões, mas de conversar. E isso mudou as famílias”, disse.
“A gente sempre quis trabalhar a inclusão, no sentido da afetividade, de receber o outro, de aceitar. Uma turma de crianças que brigava e não se aceitava transformou-se em uma turma de amigos inseparáveis”, acrescentou a professora, orgulhosa em ter alfabetizado os alunos de 5 e 6 anos. A meta para este ano é trabalhar as diferenças de etnias na nova turma de alunos.
O projeto foi um dos vencedores do 3º Concurso Aprender e Ensinar – Tecnologias Sociais, que premia iniciativas de professores de todo o país. As tecnologias sociais são soluções simples, de baixo custo e capazes de promover transformação social em uma comunidade.
Construir cisternas 80% mais baratas também foi outra iniciativa premiada. Na cidade de Bela Cruz, no Ceará, a seca motivou Fernando de Vasconcelos a criar uma cisterna usando o caule da bananeira. “O projeto foi desenvolvido para resolver dois problemas. O primeiro é ambiental, o desperdício da bananeira. O segundo é a seca. A gente tem enfrentado a pior seca dos últimos 40 anos. Isso tem sido muito sacrificante para a população cearense”, explicou.
A composição da cisterna é 80% de fibra do caule da bananeira, 5% de areia e 15% de cimento. Foram construídas dez unidades, que podem ser usadas pelas famílias da área rural Baixa Nova. Vasconcelos espera, agora, apoio do governo para levar o projeto adiante.
Entre os premiados, está um jogo digital desenvolvido por estudantes de programação de Telêmaco Borba, no Paraná. “Observamos que os jogos geralmente são de super-heróis estrangeiros ou de operações militares americanas”, contou Rafael João Ribeiro, representante do projeto. No jogo, disponível na internet, os super-heróis são palhaços que levam alegria a crianças hospitalizadas em Curitiba.
Um outro jogo foi apresentado no concurso. Para mobilizar estudantes do ensino médio da periferia da capital federal, a professora Alessandra de Araújo Silva decidiu levar para sala de aula um “Jogo Eleitoral”, que simula todas as fases do período eleitoral. Os estudantes criaram partidos políticos, plataformas eleitorais e fizeram marketing político. Os cerca de 350 alunos participaram de debates e escolheram representantes fictícios.
“Ver o jovem tímido e introspectivo participando e crescendo é muito recompensador. Eles foram se localizando, descobrindo potencialidades e, principalmente, descobrindo o funcionamento da política no país”, relatou Alessandra, uma das 65 finalistas.
O concurso recebeu 4.698 inscrições. Os seis vencedores vão participar do Fórum Social Mundial 2013, na Tunísia, em março. O concurso é promovido pela Revista Fórum e a Fundação Banco do Brasil.
*Colaborou Heloisa Cristaldo
Edição: Carolina Pimentel
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