Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A partir de meados da década de 1950, o reinado do baião nas grandes cidades começa a chegar ao fim. “Com a bossa nova e a jovem guarda, nos anos 1960, Luiz Gonzaga ficou meio esquecido pela mídia dos grandes centros”, diz o cantor e compositor Sergival, que, nos dias de hoje, apresenta na Rádio Nacional do Rio de Janeiro o programa Puxe o Fole.
“Mas no Nordeste ele continuava vivo como nunca, fazendo shows, turnês. O movimento tropicalista de Caetano Veloso e Gilberto Gil é que resgatou ele para o público das grandes cidades do país”, acrescenta.
Em abril de 1981, por ocasião do lançamento de A Festa, o 38º LP de sua carreira, Luiz Gonzaga gravou um especial para a Rádio Nacional FM do Rio de Janeiro, hoje extinta. No programa, Gonzaga relembrou suas quatro décadas carregando a pesada sanfona pelo Brasil afora.
“Foi muita luta na cidade grande, mas mesmo assim, não me sinto cansado, e não me furto a ajudar quem está começando, desde que sinta que naquela pessoa tem coisa boa”, disse o músico, entrevistado pelo radialista Darcy Marcelo.
Disco comemorativo dos 40 anos de carreira, A Festa tinha a participação de cantores como Emilinha Borba, lançadora de sucessos do compositor no auge do baião, como Paraíba e Baião de Dois; Dominguinhos, a quem Gonzaga se referiu no especial como seu “filho artístico”; Milton Nascimento, “porque ele decanta com muito amor e zela com muito carinho o folclore de sua terra”, e o filho Gonzaguinha.
“Pelo óbvio”, disse Gonzaga, ao justificar a participação do filho no disco. “Sinto muita alegria, muito prazer em minha vida em ser o pai de Gonzaguinha, e ele me trata com muito respeito e carinho, mesmo sem ter gênios semelhantes. Ele tá na dele e eu tô na minha, mas eu tô entrando no público dele devagarzinho e ele no meu”, disse Gonzaga no especial.
Um ano antes, ele havia iniciado com Gonzaguinha a turnê pelo Brasil que lhe valeu, pela primeira vez, o apelido de Gonzagão. A excursão, registrada no mesmo ano no disco Vida de Viajante, foi o coroamento de uma tensa relação entre pai e filho e das duas trajetórias marcantes.
Hoje, 30 anos depois, o Brasil acompanha essa trajetória no filme Gonzaga – de Pai para Filho, do diretor Breno Silveira. Baseado no livro do mesmo nome, escrito pela jornalista Regina Echeverría, o filme, que teve pré-estreia na abertura do Festival do Rio, em setembro, chegou no mês seguinte às telas de todo o país e já foi visto por mais de 1 milhão de pessoas.
Hoje (13), a Agência Brasil publica uma série de matérias que mostram a trajetória do Rei do Baião. As matérias trarão também o infográfico abaixo, com trechos de algumas das músicas de Luiz Gonzaga, canções que traduzem uma verdadeira viagem pelo país que o artista fez com sua obra.
Veja a galeria de fotos.
Edição: Tereza Barbosa
Brasil comemora o centenário do seu maior sanfoneiro
Luiz Gonzaga incluiu a música e a cultura do Nordeste no mapa da mídia
Jornalista diz que Gonzaga despertou a consciência de gerações para as questões sociais
Estudioso lembra que o sanfoneiro mapeou a cultura e a geografia nordestinas em sua música
Evita, Trumann e Dutra ouviram a sanfona do Rei do Baião
Baião chegou a fazer parte de trilhas sonoras do cinema italiano
Gonzaga enfrentou o preconceito e adotou o figurino do vaqueiro nordestino
Rádio Nacional foi fundamental para difundir o baião pelo país
Maestro fala de sua convivência com o padrinho sanfoneiro
Gonzaga foi, antes de tudo, um marqueteiro, diz o afilhado
Publicação inédita lança luz sobre os primeiros anos de Gonzagão como músico profissional
CD vai mostrar gravações inéditas de Luiz Gonzaga
Feira de São Cristóvão, no Rio, faz shows e exposição para homenagear Gonzagão
Cordelista canta em versos o legado de Gonzaga para os novos artistas nordestinos