Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Na trajetória que o levou à consagração nacional, um episódio é revelador do papel de Luiz Gonzaga em prol da cultura nordestina. Mais importante emissora da América Latina na época, a Rádio Nacional exigia que os cantores e músicos de seu elenco vestissem traje a rigor em suas apresentações no auditório.
Com o sanfoneiro não foi diferente. Quando começou a fazer sucesso, era de smoking que ele se apresentava. Certo dia, porém, ele descobriu que havia uma exceção: o também sanfoneiro Pedro Raimundo, gaúcho que fazia parte dos quadros da emissora, se apresentava usando a bombacha típica dos pampas.
Gonzaga reivindicou o direito de usar um figurino que marcasse sua identidade nordestina, a exemplo do que o colega fazia com o Rio Grande do Sul. Ele apareceu na rádio com a típica vestimenta de vaqueiro da região, mas foi impedido de atuar pelo então diretor artístico da emissora, Floriano Faissal.
“Marginal, não. Roupa de cangaceiro aqui não”, teria dito Faissal. Em meados dos anos 1940, o traje típico do sertanejo nordestino ainda era associado ao bando de Lampião, morto pela polícia poucos anos antes, em 1938.
Contemporâneo de Luiz Gonzaga na Rádio Nacional, o veterano radioator e apresentador Gerdal dos Santos, que até hoje integra os quadros da emissora, confirma o preconceito. “Existia, de fato, naquela época, na cultura urbana do Rio, uma valorização do bolero, do foxtrote, das músicas que faziam a trilha sonora dos filmes americanos e, por conta disto, um certo preconceito com relação à música nordestina. E isto se estendia à vestimenta”, diz Gerdal.
Luiz Gonzaga foi aperfeiçoando o traje, que usava em suas apresentações fora da rádio, até que conseguiu impor na emissora sua imagem e o figurino. A partir daí, pôde trabalhar com o chapéu de couro e as demais peças que haveriam de ser sua marca por décadas.
Hoje (13), a Agência Brasil publica uma série de matérias que mostram a trajetória do Rei do Baião. As matérias trarão também o infográfico abaixo, com trechos de algumas das músicas de Luiz Gonzaga, canções que traduzem uma verdadeira viagem pelo país que o artista fez com sua obra.
Veja a galeria de fotos.
Edição: Tereza Barbosa
Brasil comemora o centenário do seu maior sanfoneiro
Luiz Gonzaga incluiu a música e a cultura do Nordeste no mapa da mídia
Jornalista diz que Gonzaga despertou a consciência de gerações para as questões sociais
Estudioso lembra que o sanfoneiro mapeou a cultura e a geografia nordestinas em sua música
Evita, Trumann e Dutra ouviram a sanfona do Rei do Baião
Baião chegou a fazer parte de trilhas sonoras do cinema italiano
Rádio Nacional foi fundamental para difundir o baião pelo país
Tropicalismo resgatou o reinado do baião nas grandes cidades, diz compositor
Maestro fala de sua convivência com o padrinho sanfoneiro
Gonzaga foi, antes de tudo, um marqueteiro, diz o afilhado
Publicação inédita lança luz sobre os primeiros anos de Gonzagão como músico profissional
CD vai mostrar gravações inéditas de Luiz Gonzaga
Feira de São Cristóvão, no Rio, faz shows e exposição para homenagear Gonzagão
Cordelista canta em versos o legado de Gonzaga para os novos artistas nordestinos