Ocupantes do antigo Museu do Índio prometem resistir e lutar contra demolição do prédio

23/11/2012 - 19h08

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – A possível demolição do prédio do antigo Museu do Índio para as obras da Copa do Mundo de 2014 vai encontrar resistência e luta, ainda que pacífica, por parte dos 35 índios que ocupam o local desde 2006. A advertência foi feita hoje (23) pelo cacique Carlos Tukano, que se recusa a deixar o imóvel, construído há mais de 100 anos. O local também foi sede do antigo Serviço de Proteção ao Índio, comandado pelo marechal Cândido Rondon.

O cacique criticou a decisão do governo do estado de demolir o prédio como parte das obras de reforma do Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã. “A tensão é grande. Vai haver resistência, sim. Nós não queremos derramamento de sangue. [Isso] vai partir deles [os policiais]. Porque nós estamos acostumados a ver no dia a dia a polícia truculenta, que não quer diálogo e desconhece a política indígena. Nós não vamos sair. Vamos resistir pacificamente”, disse Carlos Tukano.

Ele explicou que a manutenção do antigo prédio é importante pelo sentido histórico e simbólico do imóvel. “Para nós este pedaço é muito importante, porque aqui é de toda a sociedade indígena do Brasil. O índio não tem mais nada para perder. Este é o único espaço que nós temos agora. E eles querem nos tirar à força”, declarou.

Carlos Tukano disse que estão sendo feitos contatos com outros povos indígenas para que eles entrem nesta luta. “Nós estamos articulando com vários grupos indígenas, como os guaranis kaiowás [de Mato Grosso do Sul], do Xingu, e outras entidades indígenas, para que venham aqui ajudar. Vai ser uma luta pacífica, de resistência e de consciência”, ressaltou.

A iminente desocupação e demolição do prédio pelo governo do estado, que deseja fazer ali estacionamento de carros e um museu do futebol, motivou a convocação de uma coletiva de imprensa na tarde de hoje. Além do cacique, participaram o antropólogo e ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) Mércio Gomes, Arão da Providência Araújo Filho, advogado e integrante do Conselho Nacional dos Direitos Indígenas, o arquiteto Roberto Anderson Magalhães e o defensor público federal Daniel Macedo.

O defensor ingressou com um recurso na presidência do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, responsável pela cassação das duas liminares que garantiam a permanência dos índios no prédio. Ele rebateu a tese de que a demolição do imóvel é necessária para permitir maior segurança na dispersão de público após os jogos no estádio durante a Copa do Mundo.

“Pelo fato de existir um grande evento esportivo, a gente não pode virar as costas para um patrimônio histórico de 1910. Este prédio não traz nenhuma dificuldade para a livre circulação de pessoas. Na Copa do Mundo de 1950, 200 mil pessoas passaram por aqui e não houve qualquer impedimento. Por que hoje, quando o Maracanã vai encolher quanto ao número de pessoas [para 80 mil], ele vai atrapalhar?”

O ex-presidente da Funai Mércio Gomes criticou a possível demolição do antigo Museu do Índio, onde trabalharam, além do marechal Rondon, pessoas como Darcy Ribeiro, Noel Nutels e Orlando Villas-Boas. “A importância é por ser um local simbólico da busca histórica por uma conciliação entre índios e não-indígenas no Brasil. Queremos que o governo federal interfira nisso, para podermos ter melhores condições de preservar o prédio”, disse Mércio, que amanhã (24) vai lançar no local o livro Os Índios e O Brasil: Passado, Presente e Futuro. Também será hasteada uma bandeira do Brasil em uma das torres do imóvel, como sinal de resistência pacífica.

 

Edição: Aécio Amado