Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Os restos mortais do gari Edson Rogério Silva dos Santos, 29 anos, morto durante os ataques de maio, em 2006, foram exumados na tarde de hoje (13), em Santos. A exumação foi autorizada pela mãe de Edson, Débora Maria da Silva, uma das fundadoras da organização Mães de Maio, após um pedido do Ministério Público de São Paulo para verificar se ainda existem projéteis nos restos mortais de Edson e se eles são compatíveis com as características de uma arma apreendida em Cubatão ao longo das investigações dos crimes de maio.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo confirmou a exumação e disse que ela foi realizada por equipes do Instituto Médico-Legal (IML) de São Paulo, atendendo a pedido do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), órgão ligado ao Ministério Público.
Esta é a primeira vez que o corpo de uma vítima dos ataques ocorridos em maio de 2006, atribuídos a confrontos entre membros da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e policiais, é exumado.
Débora acredita que seu filho Edson foi morto por policiais no dia 15 de maio de 2006, na Baixada Santista, depois de tentar abastecer sua moto num posto. Em depoimentos prestados durante investigação sobre a morte de seu filho, Débora afirmou que Edson foi enterrado ainda com projétil em sua coluna cervical. “Sempre souberam que existia um projétil no corpo do meu filho e, mesmo assim, o Ministério Público pediu o arquivamento do caso, fazendo vista grossa”, disse Débora. “Esperaram seis anos para fazer essa exumação”.
O Ministério Público confirma que pediu para que Débora autorizasse a exumação para saber se o projétil ainda se encontra nos restos mortais do rapaz e se ele é compatível com uma arma que foi apreendida em Cubatão. Segundo o Mães de Maio, a arma apreendida pertencia a um policial.
O resultado da exumação, de acordo com Débora, deve ocorrer em um prazo de 15 dias. A Secretaria de Segurança Pública, no entanto, disse que não há prazo para que o resultado seja divulgado.
Em entrevista hoje (13) à Agência Brasil, Débora disse temer que a exumação tenha sido pedida pelo Ministério Público para impedir que as investigações dos crimes de maio seja federalizada, como pede a organização Mães de Maio. Com a federalização, as investigações seriam realizadas pela Polícia Federal. “Vejo [a exumação] como a desclassificação do pedido de federalização. Pode ser uma manobra para mudar o rumo das investigações, atribuindo o crime do Estado para um crime praticado por cidadão comum”, disse ela.
Nos ataques de 2006, acontecidos entre os dias 12 e 20 de maio, 493 pessoas foram mortas, entre elas, 43 agentes públicos. Um estudo feito pela ONG Justiça Global, divulgado no ano passado, apontou que, em 71 desses casos, houve fortes indícios do envolvimento de policiais membros de grupos de extermínio.
Edição: Fábio Massalli