Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Estudantes da Universidade de São Paulo (USP) fizeram hoje (1º) uma manifestação, convocada por meio das redes sociais, para apoiar a presença da Polícia Militar (PM) fazendo a segurança da Cidade Universitária, localizada na zona oeste da capital paulista. A manifestação ocorreu na Praça do Relógio e reuniu cerca de 200 alunos.
O ato foi uma reação aos colegas que ocuparam o prédio da diretoria da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), na noite da última quinta-feira (27), em protesto contra a atuação de policiais militares (PMs) no campus. Eles dizem que só vão desocupar o prédio quando o convênio firmado entre a universidade e a Secretaria de Segurança Pública (SSP), que prevê a presença de policiais, for suspenso. O prédio foi ocupado após um confronto ocorrido entre estudantes e PMs, depois que três alunos, flagrados fumando maconha, foram detidos no estacionamento da faculdade.
Na convocação para a manifestação de hoje, os organizadores declaram que “a presença da Polícia Militar é necessária” por causa da falta de preparo da Guarda Universitária para exercer o trabalho de segurança do local.
A estudante de letras Marina Grilli, uma das organizadoras da manifestação, admite que a Polícia Militar não tem condições de resolver todos os problemas, mas reconhece que ela é a melhor solução, a curto prazo, para a universidade. “A PM é o que temos agora. E diminuiu em muito, sim, a criminalidade no campus. Então não faz sentido algum pedir a sua retirada”, disse.
“Antes da morte do aluno da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) tínhamos menos polícia e eu me sentia menos seguro. Agora temos visto rondas, e está bem mais tranquilo andar [aqui]”, disse Henrique Ianelli Gonçalves Luiz, estudante de engenharia elétrica, um dos participantes da manifestação.
Renan de Oliveira, diretor do Diretório Central dos Estudantes (DCE), declarou que o órgão defende o aprofundamento do debate entre os estudantes sobre o tema. “Não achamos que existam verdades absolutas, nem que a polícia seja a única saída, nem que a ausência da polícia, agora, vá resolver o problema que vimos ao longo do ano de insegurança e violência. O que não queremos é que estudantes se aproveitem desse clima de insegurança para fazer política em cima disso”, disse.
Na opinião de Oliveira, o consenso entre as partes sobre o assunto pode enfrentar dificuldades, mas irá ocorrer. “Isso não virá da noite para o dia. A universidade tem 80 mil pessoas, e essa é uma questão bem problemática. Precisamos ter uma mesa de debate e envolvimento dos professores. A universidade produz conhecimento para muitas áreas e tenho certeza de que para resolver esse problema da segurança e da circulação de estudantes, a universidade pode auxiliar os estudantes a tirar uma posição sobre isso”, declarou.
Para o tenente-coronel José Luiz de Souza, comandante do 16º Batalhão da Polícia Militar, responsável pelo policiamento na região do Butantã, em São Paulo, “não há excesso” na abordagem policial dentro do campus. Souza explicou que o trabalho desenvolvido pela PM dentro da USP é a “prevenção de delitos. “A abordagem policial é um dos recursos estratégicos que a instituição utiliza, em todo o território paulista, para reprimir ilícitos. Não há abuso. É uma estratégia usada pela polícia há muitos anos”, disse.
Segundo Souza, o confronto ocorrido entre a PM e os estudantes foi, principalmente, pela falta de diálogo e por excesso dos estudantes. “Estive presente, aqui, no momento em que isso aconteceu. A Polícia Militar adotou todos os recursos e esgotou todos os meios que tinha de negociação para fazer com que esse fato transcorresse da maneira menos traumática possível. Mas a partir do momento em que houve o cerco à viatura da polícia, a quebra dos vidros, as agressões, o rapaz subindo em cima da viatura, aí, evidentemente, a polícia não teve outra alternativa a não ser fazer uso da força necessária para desobstruir e garantir a segurança”, declarou.
Neste momento, os estudantes da USP estão fazendo uma assembleia no prédio da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Centenas de alunos acompanham a reunião, que discute a questão da segurança no campus. A assembleia também pode decidir sobre a desocupação do prédio da administração da FFLCH. Em um manifesto, os alunos que ocupam o prédio questionam a presença da Polícia Militar no campus. “Simultaneamente à repressão policial, que ocorre tanto na USP quanto fora dela, a reitoria tenta extinguir os espaços políticos e culturais de organização dos estudantes”, diz o documento.
O convênio entre a USP e a Secretaria de Segurança Pública foi firmado em setembro, após meses de negociação. Em maio deste ano, o estudante Felipe Ramos de Paiva, de 24 anos de idade, foi assassinado durante um assalto.
Ontem (31), a Congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, formada por 50 professores, funcionários e alunos, declarou, por meio de nota, a sua disposição para negociar o conflito. “A congregação envidará todos seus esforços para desarmar o conflito e conduzir seu desfecho à mesa de negociações”.
Edição: Aécio Amado