Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Cerca de 600 pessoas, segundo a Polícia Militar, participaram na tarde de hoje (14) de uma manifestação para protestar contra a decisão do Metrô paulista de mudar a localização da futura Estação Angélica, prevista para ser construída na Avenida Angélica, em Higienópolis, bairro de São Paulo constituído principalmente por pessoas de classe média alta. O protesto também foi contra a decisão de alguns moradores do bairro que organizaram um abaixo-assinado pedindo para que a estação não fosse construída nesse local.
O protesto foi organizado por um grupo de amigos por meio das redes sociais. O convite espalhado nas redes convidava as pessoas a organizarem um churrasco na frente do Shopping Pátio Higienópolis e ganhou o nome de Churrasco de Gente Diferenciada, alusão à frase dita por uma das moradoras ao jornal Folha de S.Paulo em que relatava que não queria a construção do metrô no local porque atrairia “gente diferenciada” à região.
Um dos organizadores é o jornalista David Lobão. Segundo ele, o protesto começou com apenas seis pessoas, mas ganhou a adesão de quase 60 mil pessoas na internet.“Quando começamos a conversar no Twitter, procuramos uma maneira de manifestar (contra o Metrô e o abaixo-assinado) de forma pacífica. E pensamos em ir para a porta do shopping, levando cadeiras de praia e refrigerantes de R$ 2 para mostrar que as pessoas que usam metrô podem consumir coisas mais baratas e que, nem por isso são violentas, criminosas e não vão transformar a avenida em um camelódromo”, afirmou.
A indignação das pessoas teve início com a notícia de que alguns moradores do bairro organizaram um abaixo-assinado, endereçado ao Metrô, para pedir que a estação não fosse construída lá - e que o Metrô teria decidido atender a esse pedido. No abaixo-assinado, organizado pela Associação Defenda Higienópolis, são citadas seis razões para que a estação não seja construída no bairro. Entre elas, lê-se que a construção da Estação Angélica "aumentará o fluxo de pessoas na região", o que "deve gerar um aumento de ocorrências indesejáveis, afetando a qualidade de vida dos moradores que estão acostumados a andar a pé" e que isso pode gerar também "um aumento natural do comércio ambulante", fazendo com que a estação vire um camelódromo, degradando o entorno.
A suspeita de que o Metrô tenha modificado sua decisão de construir a Estação Angélica na Avenida Angélica para atender à decisão dos moradores que assinaram o abaixo-assinado gerou preocupação no Ministério Público, que pretende investigar o caso. Segundo o promotor Maurício Antonio Ribeiro Lopes, que também é um morador do bairro, caso a suspeita seja confirmada, o Metrô poderá ser responsabilizado pelo erro. Lopes já instaurou um procedimento preparatório de inquérito civil, esperando que o Metrô e a Secretaria Estadual de Transportes Metropolitano apresentem uma justificativa para a mudança da estação.
“Não podemos permitir que o interesse particular prepondere sobre o interesse público. Se sentirmos que isso aconteceu, tomaremos as medidas judiciais necessárias para garantir que o interesse social e plural seja defendido em relação a um interesse meramente privado”, disse o promotor.
Um novo abaixo-assinado, desta vez pedindo para que a estação do metrô seja construída no local, circulou durante a manifestação. “O metrô não é importante só aqui, mas em todas as regiões de São Paulo. Quanto mais estações tivermos pela cidade, muito melhor para a população, inclusive para aqueles que são contra a Estação Angélica”, afirmou o roteirista Angelo Capozzoli, organizador do abaixo-assinado.
Para o evento, os manifestantes trouxeram faixas de protesto e ingredientes para o churrasco, como farofa, frango, queijo de coalho e carne. Dentro de um prédio localizado bem na frente do shopping, onde o protesto ocorria, a atriz Gabriela Quarentei observava a manifestação, apesar de ser contrária à estação do metrô no bairro. Moradora do bairro há cinco anos, Gabriela, que não assinou nenhum abaixo-assinado, ressaltou que sua motivação é apenas pelo fato de que já há estações lá perto e não haveria necessidade de outra. Ela também disse respeitar a manifestação pacífica de hoje, que observava à distância.
“Eu utilizo o metrô e acredito que eles poderiam investir essa verba em algum outro bairro que esteja necessitando mais”, disse ela.
Na última quarta-feira (11), o Metrô emitiu uma nota afirmando que está reavaliando a localização da futura Estação Angélica, já que no projeto inicial, ela fica a apenas 610 metros da futura Estação Higienópolis-Mackenzie e a 1,5 quilômetro da futura Estação PUC-Cardoso de Almeida. De acordo com a companhia, essa reavaliação foi exclusivamente técnica, “em nada motivada por pressão dos moradores da região de Higienópolis, a favor ou contra a estação” e deve ser concluída até o final do ano.
A futura Linha 6-Laranja do Metrô terá 13,5 quilômetros e 14 estações. A expectativa da companhia é que ela vá transportar 638 mil passageiros por dia. A linha fará integração com as linhas 1-Azul e 4-Amarela do Metrô e com a Linha 7-Rubi da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos.
Edição: Rivadavia Severo