Voluntário deixa vida tranquila para atuar no socorro a vítimas de desastres

23/01/2011 - 11h04

Ivan Richard
Enviado Especial

Petrópolis (RJ) - Vestido com um uniforme preto e cinza, semelhante ao usado pelos soldados da Força Nacional de Segurança, Cefas Querois é mais um daqueles que tentaram resgatar sobreviventes e encontrar corpos após a tragédia que destruiu grande parte da região serrana do Rio de Janeiro. A diferença é que o metalúrgico de Santa Catarina, ao contrário dos militares da Força Nacional, não recebe nada para trabalhar e ainda paga com recursos do próprio orçamento todas as despesas de locomoção e hospedagem.

Formado em Física, Querois contou à Agência Brasil, em meio ao trabalho de revirar a lama e os escombros em busca de vítimas da tragédia no Vale do Cuiabá, em Petrópolis, que deixou uma vida tranquila em Brasília para ganhar quatro vezes menos em Santa Catarina e atuar sempre que possível no socorro a vítimas de desastres. No Rio há dez dias, ele resgatou 30 pessoas com vida e 11 corpos.

“Tinha um curso de resgate em floresta, da época em que fazia rapel, e decidi ir a Santa Cataria após as chuvas que atingiram o estado. Lá, percebi que tinha um dom e que poderia ajudar pessoas vítimas desse tipo de tragédia”, afirmou. De professor de cursinho passou a metalúrgico.  

“Deixei meu conforto e mudei minha vida. Em Santa Catarina, ajudei a localizar 22 corpos soterrados e em Niterói [RJ] outros oito corpos.  Não me arrependo. Descobri que nasci para isso. Tenho sangue frio, habilidade, consigo me orientar pelo cheiro, além de buscar sempre capacitação”, disse Querois, que está tentando economizar recursos para fazer um curso na Nasa, a agência espacial norte-americana.

“Já tinha boa parte do dinheiro para ir aos Estados Unidos, mas infelizmente houve essa tragédia aqui no Rio e não tinha como não vir. Agora, é trabalhar mais e tentar economizar novamente”, afirmou. Para chegar à região serrana fluminense, ele disse que já gastou mais de R$ 2 mil.

Querois utiliza máscara de vapores orgânicos, bota, joelheira, capacete, tudo adquirido com o próprio salário de pouco mais de R$ 1 mil. “Foram mais de R$ 3,5 mil na compra dos equipamentos. Compro pela internet, entro em contato com as fábricas e vou dividindo para conseguir pagar”.

Para estar nos locais de desastres naturais, Querois não conta apenas com a sua dedicação, mas também com a compreensão do supervisor na metalúrgica. “Meu chefe honradamente me dispensou”.

Edição: Graça Adjuto