Soweto expõe desigualdades

04/07/2010 - 16h36

Vinicius Konchinski

Enviado especial

 

Joanesburgo (África do Sul) – Soweto foi construído no final do século 19 para servir de residência para os negros proibidos de habitar áreas centrais de Joanesburgo pelas primeiras leis do apartheid. Vinte anos após o fim do regime discriminatório da África do Sul, o bairro que virou símbolo da luta pela igualdade de direitos é um dos mais desiguais de Joanesburgo.

 

Um dos pontos turísticos mais frequentados por estrangeiros, Soweto é área de restaurantes, museus e algumas casas de luxuosas, mas também de favelas, assentamentos e infraestrutura precária. Enquanto alguns aproveitam o desenvolvimento local, outros enfrentam condições que nem o regime do apartheid impôs aos primeiros habitantes do lugar.

 

Taboho Qasone, 20 anos, é um dos milhares de menos favorecidos. Ele mora há cinco anos na favela batizada de Holomisa Camp. Vive com sete pessoas em uma casa construída com pedaços de madeira e lâminas de alumínio, bem diferente das moradias padrão erguidas pelo governo sul-africano nos tempos de segregação. Não tem acesso a energia elétrica, água tratada nem esgoto.

 

“A vida aqui é como você está vendo mesmo”, afirmou ele, ao tentar descrever as condições em que vivem ele e todos os seus cerca de 20 mil vizinhos. “Não tenho muito a dizer.”

 

Em meio a esgoto correndo a céu aberto, galinhas, porcos e crianças, Taboho guiou a reportagem da Agência Brasil em uma visita à Homolisa. Mostrou a pedra em que todos lavam suas roupas e também explicou como é feito uma espécie de carvão com que eles cozinham e aquecem seus barracos. Preferiu, porém, não chegar perto dos 20 banheiros químicos usados por todos os moradores que vivem no local. “Você não vai querer ver isso”, perguntou. “É sujo demais.”

 

Não muito longe da Holomisa Camp, Alice Madlopha, 67 anos, não tem receio de mostrar sua casa. Jardim amplo, quartos grandes, banheiro, cozinha, sala de jantar. Espaço suficiente para abrigar as seis pessoas que vivem ali, na frente de uma das praças mais bem cuidadas de Soweto, a Thokosa Park. Lá, não falta água nem luz. Sobram área verde, ruas asfaltadas, espaço para lazer.

 

“Não saio daqui por nada”, diz ela, apontando para toda a estrutura da qual ela pode desfrutar a poucos metros de sua casa. “Estou em Soweto desde criança e aqui vou ficar até morrer.”

 

Alice ainda lembra do tempo em que foi forçada pelo governo a mudar para Soweto junto com sua família. Ela diz que chegou a viver sete anos em albergues construídos no bairro para abrigar negros que chegavam e não tinham lugar para ficar.

 

Hoje, bem instalada, diz que conseguiu uma posição mais confortável graças ao trabalho de anos dela e de seu ex-marido. Ela espera que mais empregos ajudem os que ainda não alcançaram o mesmo conforto o conquistem. “O problema é o desemprego”, afirma. “Com um emprego, todo mundo vai viver melhor.”

Edição: João Carlos Rodrigues