Lisiane Wandscheer
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Usuários da saúde mental, especialistas e profissionais da área de saúde mental reuniram-se de sexta-feira até hoje (18), em Porto Alegre, no 2º Encontro Nacional dos Residenciais Terapêuticos e do programa de Volta para Casa. Segundo o coordenador nacional de Saúde Mental, do Ministério da Saúde, Eduardo Delgado, os residenciais são uma forma de viver com dignidade nas cidades.
“As residências terapêuticas são casas onde pessoas com transtornos mentais graves moram dignamente e saem de longas internações dos hospitais psiquiátricos”, afirma.
As residências foram implantadas no Brasil em 2003. São 570 residências terapêuticas onde moram 2800 pessoas. Muitas estão lá porque perderam o contato com suas famílias ou foram rejeitadas por elas.
As casas são alugadas ou compradas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Nelas vivem grupos de até oito pessoas com a presença de um profissional de saúde chamado de cuidador que auxilia na administração de medicamentos ou no orçamento da casa.
De acordo com Delgado como são pessoas que precisam de tratamento em saúde mental as residências se situam normalmente próximas a um Centro de Atendimento Psicossocial (Caps). “Nos Caps elas são atendidas como qualquer outra pessoa, sem o estigma de um hospital psiquiátrico”, garante.
Além das residências, o de Volta para Casa é outro programa que contribui com a autonomia destas pessoas fora dos hospitais psiquiátricos. Atualmente 3.600 pessoas com transtornos mentais e que ficaram internadas ininterruptamente por pelo menos dois anos recebem um auxílio no valor de R$ 320,00.
Delgado explica que o Ministério da Saúde tem um tripé de desinstitucionalização psiquiátrica no Brasil que combina os Residenciais Terapêuticos, o de Volta pra Casa e a reestruturação hospitalar com a redução dos leitos nos hospitais psiquiátricos.
“Entre 2002 e 2008 reduzimos 19 mil leitos no país. Queremos que estas pessoas sejam atendidas nos hospitais gerais. Nossa meta é substituir integralmente este atendimento, mas não podemos dar prazo para isto acontecer”, afirma.
André Vital de Jesus, de 38 anos, mora em uma residência terapêutica em Paracambi, no Rio de Janeiro ele conta que já foi internado em vários estados, em São Paulo, no Rio de Janeiro, mas que agora tem uma vida melhor.
“Tem muita gente que humilha a gente, mas lá tenho uma vida melhor. Hoje minha família me visita e tenho meus amigos”, relata.
A gaúcha Heloísa Monteiro Baraci de 55 anos, viveu mais de 20 anos no Hospital São Pedro em Porto Alegre, passou pelas residências terapêuticas e hoje trabalha e paga mensalmente a parcela de sua casa própria.
“Eu sempre dizia no São Pedro que queria sair e os médicos diziam que eu não conseguiria, mas eu lutei e consegui. Hoje trabalho e recebo meu salário e com o dinheiro do auxílio comecei a pagar minha casa. Tem muita gente como eu que tá morando no hospital”, destaca.
O usuário da saúde mental e representante do movimento nacional antimanicomial no Amazonas, Stemberg Rabelo de 37 anos, diz que em Manaus eles lutam para que sejam criadas as residências terapêuticas.
“Nos hospitais psiquiátricos você não existe enquanto pessoa. Se tiver dor de dentes arrancam teus dentes. Para saber se alguém passou por manicômio é só olhar se faltam dentes. Fui internado por décadas, agora sou usuário do único Caps de Manaus”, afrima.
Edição: Tereza Barbosa