Jovens de cursinho pré-vestibular para alunos de baixa renda participam de debate sobre cotas

06/03/2010 - 17h14



Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - Cerca de 400 jovens estudantes de um cursinho pré-vestibular voltado para pessoas de baixa renda participaram hoje (6) de uma aula pública com o tema Em Defesa das Cotas para Negros, Indígenas e Pobres. Por uma Universidade com a Cara do Brasil. Na aula inaugural estiveram presentes alunos das 17 cidades onde o cursinho funciona.

O debate foi estimulado pelas audiências públicas realizadas em Brasília nesta semana pelo Supremo Tribunal Federal (STF), nas quais foram discutidas a constitucionalidade do sistema de cotas nas universidades públicas.

A coordenadora do Conselho Geral da União de Núcleos de Educação Popular para Negros e Classe Trabalhadora (Uneafro), Elenilza Ferreira, afirmou que a única maneira de essa parte da população ter acesso à universidade são as cotas.

“Queremos um ensino público melhor e os nossos alunos dentro da universidade pública, mas o sistema não permite isso.”

Segundo ela, o aluno de baixa renda precisa trabalhar e não tem condições de passar o dia estudando para ter acesso à faculdade, deficiência que o sistema de cotas corrige.

A diretora do Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade (Inspir), Maria Aparecida Pinho, disse que encontros desse tipo, com militantes do movimento negro, são importantes para mostrar ao jovem que pretende ingressar na universidade que há esperança para alcançar um Brasil igualitário e de sucesso para todos.

“É mentira dizer que as cotas para negros nas universidades vão denegrir o país, criar racismo. Sempre tivemos 100% de cotas para brancos, filhos de fazendeiros. Então, nada mais justo do que os negros e os pobres brancos lutarem para ter sua fatia.”

Ela avaliou como positivo o debate ocorrido em Brasília . “Mesmo quem é contra não necessariamente tem argumentos suficientes para dizer que elas não possam existir.”

Membro do Círculo Palmarino, ligado ao movimento negro, Joselício Junior, destacou que o grupo defende a adoção de cotas como elemento de reparação histórica de uma população que foi escravizada no Brasil e no processo de abolição foi excluída social, econômica e culturalmente. “No estado de São Paulo nós somos algo em torno de 35% da população e na universidade não representamos nem 8% do total de alunos.”

“Também defendemos que a universidade seja democrática, que garanta a diversidade no seu espaço e na produção de conhecimento. E sabemos que em nossa sociedade produção de conhecimento é produção de poder também”, defendeu Junior.

De acordo com ele, dados das universidades que adotaram o sistema indicam que os alunos cotistas têm desempenho igual ou melhor do que os não cotistas e que não há dificuldade de acompanhamento das aulas.

“A grande dificuldade dos alunos é a permanência da faculdade, porque há uma exclusão econômica, já que em alguns casos o aluno tem que deixar a faculdade porque precisa trabalhar.”

Junior disse ainda que as cotas não resolvem o problema social, mas são um instrumento para diminuir o abismo. “Só haverá mudanças reais se houver uma grande transformação na sociedade.”

 

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