Diversidade de fontes qualifica o debate

05/02/2010 - 7h39

Paulo Machado
Ouvidor da Agência Brasil
Brasília - Em uma sociedadecomplexa como a que vivemos a repercussão dos fatos éresultado de múltiplos interesses que ora se alinham, ora sedefrontam, de acordo com os objetivos e as necessidades de cadagrupo. A comunicação precisa refletir essamultiplicidade de maneira a dar voz a diferentes atores no debatedemocrático das questões nacionais. Quanto maior adiversidade de fontes ouvidas nas matérias que levam ainformação ao público, melhor a qualidade daargumentação sobre a realidade que se pretendetransformar.O prática dotrabalho escravo é uma dessas realidades para a qual o governotraçou uma politica pública de combate que vem sendoimplementada ao longo dos últimos anos. O MinistérioPúblico do Trabalho – MPT, divulgou uma pesquisa dando contado resultado das fiscalizações que resultaram nalibertação de trabalhadores durante o ano de 2009. Anotícia da Agência Brasil sobre essa pesquisaSudesteregistra maior número de trabalhadores em regime análogoao de escravidão, publicada dia 26 de janeiro, foi o motivo dademanda do leitor Ernesto Chessa. Segundo ele: “Amatéria reproduz apenas a visão do MPT, como se fossemeles os coordenadores das ações de combate ao trabalhoescravo. Há uma série de furos na matéria. Porque não ouvem a CONATRAE? Por que não ouvem oMinistério do Trabalho? A Agência Brasil não podeser igual à imprensa em geral que se limita a reproduzir oolhar dos colegas das assessorias de imprensa. Isso não éjornalismo!”.A Agencia Brasilrespondeu: “Agradecemos o comentário do leitor e vamosouvir as fontes sugeridas sobre trabalho escravo”.Pelo decreto que criouem 2005 a Comissão Nacional de Erradicação doTrabalho Escravo – a Conatrae, citada pelo leitor, responsávelpor acompanhar ocumprimento das ações constantes do Plano Nacional paraa Erradicação do Trabalho Escravo, é integradapor oito ministérios sob a coordenação daSecretaria Especial dos Direitos Humanos, alem de representantes deentidades privadas não-governamentais e de observadores,representantes de instituições públicas ouprivadas, que possuam notórias atividades no combate aotrabalho escravo.Odecreto também estabeleceu que asprovidências necessárias para a atuaçãointegrada da fiscalização e repressão aotrabalho escravo serão tomadas pelo Grupo Executivo deTrabalho, constituído pelos Secretários-Executivos ouocupantes de cargos equivalentes dos seguintes Ministérios:Defesa; Desenvolvimento Agrário; Justiça; MeioAmbiente; Previdência Social; e do Trabalho e Emprego, sobcoordenação do Secretário Especial Adjunto dosDireitos Humanos.Apesar da quantidade deórgãos e instituições envolvidas, adivulgação de referida pesquisa deu-se exclusivamentepelo representante do Ministério Público do Trabalho,segundo pode-se depreender pela notícia da ABr. Osdemais integrantes do Grupo Executivo não participaram? Porque a ABr não repercutiu os resultados da pesquisajunto aos demais agentes do Estado e da sociedade?Até a presentedata, decorridos dez dias da divulgação da pesquisa, ainda não foram ouvidas outras fontes sobre o assunto,conforme prometeu a Agência em sua resposta ao leitor –o tempo passou e no jornalismo dizemos que perderam o “gancho”para aprofundar esse debate. Daí decorre a crítica doleitor - “ Agência Brasil não pode ser igual àimprensa em geral que se limita a reproduzir o olhar dos colegas dasassessorias de imprensa. Isso não é jornalismo!”Para corrigir umequivoco cometido no títuloda notícia: Indústria diz queSelic ajuda a manter investimento e CUT chama decisão demiopia econômica,publicada dia 10 de janeiro, o leitor José Altair MonteiroSampaio escreveu: “ O título diz: '... CUT chamadecisão de miopia econômica'. No entanto, o penúltimoparágrafo do texto traz um pronunciamento do presidente daForça Sindical. Gostaria que a matéria fosse corrigidae, na medida do possível, fossem ouvidos outros segmentossindicais, a começar pela própria CUT citada”.AAgência Brasilcorrigiu a manchete alterando a origem do comentário:Indústriadiz que Selic ajuda a manter investimento, e Força Sindicalchama decisão de miopia e informou que : “Sempre procuramos ouvir as entidadesque querem se manifestar sobre decisões, como a da taxa dejuros".Todavia,não ficou claro na resposta da ABrse a CUT foi procurada e não quis comentar o assunto ou se aentidade não foi procurada pela reportagem, ao contráriodo que sugeriu o leitor. Sabemos que as duas centrais sãoigualmente representantes de sindicatos de trabalhadores, mas nãonecessariamente compartilham das mesmas posições emrelação à politica econômica.Estamos em um ano eleitoral. Dentro de poucos meses iniciar-se-ãoas campanhas que irão bombardear os eleitores com promessas,planos e projetos, muitos deles mirabolantes . Mais do que nunca osleitores, feitos eleitores, necessitarão de informaçõespara discernir em quem confiar. Para ajudar nas escolhas, debates queenvolvem questões como a taxa de juros ou direitostrabalhistas poderão ser decisivos e por isso precisam serqualificados e aprofundados, trazendo para a esfera pública omaior numero possível de opiniões de diversos setoresda sociedade. Esta tarefa está posta para a imprensa,principalmente para a agência pública de notícias.Nesse aspecto, quando os fatos ocorrem, a diversidade de fontesouvidas nas matérias pode contribuir diretamente para aqualidade do debate e indiretamente para a qualidade do voto. Até a próxima semana.