Ivan Richard
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A abertura dos arquivos secretos da ditadura, uma das principaisplataformas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) nos últimos trêsanos, deve ser deixada de lado na gestão do novo presidente daentidade, Ophir Cavalcante. Segundoele, a redemocratização, não pode “ser comprometida pelo retorno, sobqualquer pretexto ou argumento, ao autoritarismo”.“Não háditadura de direita ou de esquerda. Há ditadura, experiência humanatrágica que, sem qualquer exceção, produz apenas violência, atraso einjustiça, em seu sentido mais amplo e corrosivo”.Cavalcante também defendeu há pouco, em seu discurso de posse,uma “profunda” reforma do sistema político brasileiro. Lembrando oescândalo de corrupção descoberto no Distrito Federal, no ano passado,o novo presidente da OAB, disse que o Brasil precisa se “reencontrarcom a decência” e por fim à impunidade para os corruptos.Cavalcante pediu uma “faxina moral nas instituições” e uma reformapolítica, com a implantação do financiamento público de campanha. “Énecessária, imprescindível, uma profunda reforma do atual sistemapolítico, não limitada à revisão do sistema eleitoral, mas ampliada aoutros setores da administração, com o objetivo de sanear uma daspiores mazelas do setor público, que é a distribuição política eperdulária de cargos”, discursou.Para o novo presidente da OAB,é preciso firmar um pacto de “vergonha na cara” para o mudar, segundoele, o quadro de impunidade que está instalado no país. “Estamos nestacircunstância: ou nos reencontramos com a decência ou naufragaremos.Nenhum país avança, nenhum país ingressa no primeiro mundo com as mãossujas”, argumentou. “E o Brasil carece de decência. Não são os índicesdo PIB [Produto Interno Bruto] que expressam o avanço de um país, mas aconduta moral de seus dirigentes”.Cavalcantecobrou punição aos envolvidos no escândalo descoberto pelaOperação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, que desarticulou umsuposto esquema de pagamento de propina do governador do DistritoFederal, José Roberto Arruda, a deputados distritais e aliados. “Asimagens falam por si, sim, mas expressam ainda um autismo revoltante,já que falam apenas para si, sem qualquer consequência penal para osinfratores, que continuam em seus cargos e cinicamente ainda perdoam osque contra eles protestam.Para Cavalcante é preciso tambémfortalecer as instituições, em especial o Judiciário. “Sem umJudiciário forte, prestigiado, não há advocacia forte e prestigiada.São as duas faces de uma mesma moeda: Advocacia e magistratura sãopapéis que se complementam na tarefa única de produzir justiça”.Eledefendeu ainda a ampliação do controle externo do Judiciário e doMinistério Público e a criação de um “observatório da corrupção”. Paraessa tarefa, Cavalcante convocou os 700 mil advogados inscritos nasseccionais da OAB e toda a população.