Entidade que representa bolivianos diz que fim da clandestinidade pode significar desemprego

19/01/2010 - 21h05

Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Três bolivianos foram presos em flagrante ontem (18) por manter15 pessoas, também bolivianas, em regime análogo ao de trabalho escravonos fundos de uma oficina, na rua Afonso Pena, no Bom Retiro, regiãocentral da capital paulista.As vítimas trabalhavam, em média,17 horas por dia. Os bolivianos confeccionavam roupas no local e recebiam R$ 0,50 por peça fabricada. Os produtoschegavam a ser vendidos por R$ 10 reais no comércio.Para umdos coordenadores da Federação de Bolivianos Residentes no Brasil,Jorge Villegas Pantoja, o emprego de bolivianos em regime análogo ao daescravidão, no entanto, está longe de ser resolvido. De acordo com ele, osimigrantes bolivianos acabam aceitando a situação de trabalho escravo e evitamse regularizar para não perder o emprego.    “Para vocêsobreviver tem que manter a sua categoria de trabalhador comoclandestino, porque, nessa qualificação, você tem trabalho. Nomomento em que você deixa de ser clandestino, porque você está setornando um estrangeiro em situação regular, você muda de categoria detrabalho e passa a ser um cidadão com alguns direitos”, explica.Apesarde os bolivianos liderarem a lista dos estrangeiros que mais seregularizaram no Brasil nos últimos meses, Pantoja afirma que umagrande parcela prefere permanecer como clandestino e manter o emprego,mesmo em situação similar à de escravidão.“Existe algumaspessoas que vivem na clandestinidade situação melhor que em umasituação de regularidade. Aí que reside, aí que se explica a situaçãodesse trabalho escravo. O problema se origina no país que exporta umamão de obra que vá se submeter a qualquer tipo de situação. Essasituação que, no Brasil, é de trabalho escravo, e de fato é, para alguémque está em uma situação precaríssima, essa nova situação é vantajosa”.Segundo o Ministério da Justiça, de um totalde quase 42 mil pessoas, de 135 países, que se cadastraram no segundosemestre do ano passado, 16,8 mil são da Bolívia.