Vítimas da violência policial no Rio têm história narrada em livro lançado no Museu da República

24/07/2009 - 21h12

Luiz Augusto Gollo
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A Editora 7Letras lançou, na noite de hoje (24), no Museu daRepública, o livro Auto de Resistência: Relatos de Familiares deVítimas de Violência Armada, em que mães e parentes de jovensmortos pela polícia traçam um panorama da realidade social no Riode Janeiro. São 19 relatos que expressam a dor e o inconformismo dosque perderam parentes na guerra travada por policiais em áreaspobres da cidade. E os números da violência não param decrescer.Não por acaso, a Organização das Nações Unidas(ONU) divulgou, no último dia 21, estudo com perspectivas sombriaspara a adolescência no Brasil. Segundo a pesquisa feita pelaSecretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência daRepública, em parceria com o Fundo das Nações Unidas para aInfância (Unicef) e a organização não governamental (ONG)Observatório de Favelas, mais de 33,5 mil jovens de 12 a 18 anosdeverão perder a vida por homicídio entre 2006 e 2012, caso osíndices de violência no país não se alterem nos próximos anos.Centrada em episódios restritos ao Rio de Janeiro, a obrafoi organizada pela socióloga e escritora Bárbara Musumeci Soares,que na apresentação a define como “um livro feito a muitas mãos,por uma equipe mista de familiares e de profissionais da palavra e daimagem, com a participação ativa de todas as pessoas retratadas.Ele [livro] está a serviço da preservação da memória deum doloroso aspecto da nossa vida social, como um retrato vivo de umarealidade que não pode mais cair no esquecimento”.Aexpressão "auto de resistência" é referência explícitaao registro policial de resistência à voz de prisão ou à ordem daautoridade e, no caso, se resume à morte de adolescentes e jovenscidadãos que, por circunstâncias adversas, tiveram a má sorte deestar no caminho da polícia. De acordo com Bárbara, além de tratarda criminalização da pobreza, as narrativas publicadas mostram apercepção de que os pobres do Rio de Janeiro estão à margem dosdireitos da cidadania. “As narrativas do livro têm umadimensão global, tratam de contextos de violência armada e deimpunidade”, afirma a socióloga, acrescentando que, dos 19 casosda publicação, apenas um não reporta violência policial, mas simde um juiz de direito. Todos os demais são tipificados comoexecuções ou chacinas.O livro é resultado do Projeto deApoio a Familiares de Vítimas de Chacinas, do Centro de Estudos deSegurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes e do Centro deEstudos Sociais da Universidade de Coimbra. Outros resultados são umdocumentário que será lançado em outubro, mostrando os encontrosmensais de apoio psicossocial, dois cursos de promotorias legaispopulares, a criação de uma rede de atendimento psicanalítico e deum plantão de orientação jurídica.