Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Uma das propostas mais polêmicas para tentar conter a violência no futebol é a que trata da torcida única nos estádios, banindo os torcedores visitantes em dias de clássicos ou jogos mais importantes. A idéia é defendida pelo promotor de São Paulo Paulo Castilho, que defende essa solução como temporária. Mas outra ideia deve movimentar bastante o mundo do futebol: realizar um jogo com torcidas adversárias sentando lado a lado, sem divisões.“Posso dizer que num futuro muito próximo, aqui em São Paulo, ainda vamos ter a oportunidade de assistir a cerca de 500 a 1.000 torcedores do Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos (os principais times do estado) no mesmo lugar no estádio, dividindo o mesmo espaço sem nenhuma violência”, afirmou Castilho, em entrevista à Agência Brasil. A proposta ainda está sendo estudada e não deve ser algo definitivo no mundo futebolístico, mais acostumado às divisões de torcidas nas arquibancadas e também na separação dos adversários na chegada e saída dos jogos. Se essa ainda é uma idéia futura, que ele prevê que ocorra ainda esse ano, a de torcida única (com a exclusão dos vistantes) é a que parece mais próxima de ocorrer e também é a que levanta mais polêmica.“Enquanto torcedor, sou contrário à torcida única e não generalizo para todos os jogos. Não precisamos falar em torcida única num jogo entre Corinthians e Barueri", diz o promotor. "Mas precisamos falar em torcida única num jogo que for analisado de alto risco.” Castilho ressalta o caráter transitório da proposta até que todas as medidas de combate à violência estejam sendo aplicadas.Para ele, utilizar torcida única é necessário na impossibilidade de se aumentar muito o número de policiais destacados para os jogos. “Vamos ter que movimentar uma gama grande de policiais. Quando movimentamos esses policiais, desguarnecemos as periferias e outros setores da sociedade. É um custo muito elevado para o Estado”, disse ele.Para as torcidas organizadas, a proposta de torcida única não agrada. “Se resolveria o problema (da violência), não sabemos. É provável que diminuiria bastante. Mas acabaria com o espetáculo do futebol”, disseram representantes do Portal Torcidas Organizadas, por e-mail, que preferiram não se identificar.“Isso não vai minimizar nem pouco a violência. É ridículo e discriminatório. Que melhorem o sistema, equipem os estádios, façam as punições”, declarou o presidente do conselho da Torcida Jovem do Flamengo e presidente da Federação das Torcidas Organizadas do Rio de Janeiro, José Maria de Sá Freire Filho.Segundo João Paulo Medina, ex-preparador físico de futebol e atualmente no portal Universidade do Futebol, a torcida única só poderia ser encarada como uma decisão temporária, de curto prazo. “O ideal é que tenhamos torcidas dos dois times convivendo pacificamente, 'brigando' por seu time de forma civilizada. Como se pode proibir uma pessoa de ir ao estádio só porque ela não torce para o time que é mandante do jogo? Isso é uma distorção terrível”, defendeu.O sociólogo Mauricio Murad, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e da Universo, avalia a medida como a "a decretação da falência da segurança pública". Ele acredita que a saída poderia ser o aumento do número de policiais, as regras de segurança, a punição e a fiscalização na hora da entrada e proibir o cambismo." Tem que prender em flagrante delito o torcedor violento, e a lei tem que ser cumprida”, afirmou.Para o Ministério da Justiça, adotar ou não torcidas únicas em jogos de futebol é uma medida que cabe a cada Estado tomar. “Como torcedor não sou favorável. Como lei nacional, também acho que de jeito nenhum. Mas como política específica, de determinados lugares, em momentos muito agudos de tensão, acho que é uma medida que pode ser tomada. Mas sem dúvida empobrece o espetáculo”, afirmou o secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Pedro Abramovay.Enquanto a torcida única é discutida, a redução de torcedores visitantes em clássicos e jogos mais importantes já vem sendo aplicada em São Paulo. Segundo o promotor, a medida vem surtindo efeito.“Num jogo Corinthians e São Paulo, quando se dividia meio a meio o Morumbi, havia 20 ocorrências e cinco flagrantes no perímetro do estádio. No jogo em que reduzimos para 5% a torcida visitante, que seria a torcida do Corinthians, reduzimos para dois boletins de ocorrência e zero ocorrências na Grande São Paulo porque evitamos o confronto das torcidas”, afirmou Castilho.