Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A próxima semana será decisiva na disputa entre Brasil e Estados Unidos pelo fim dos subsídios norte-americanos à produção de algodão. Representantes dos dois governos e da Organização Mundial do Comércio terão reuniões na segunda-feira (2) e na quarta (4), em Genebra, para definir se os Estados Unidos cortarão a ajuda financeira dada aos seus agricultores, como determinado pela OMC, ou se o Brasil aplicará retaliações aos seu principal parceiro comercial.Segundo fontes diplomáticas, caso não haja consenso quanto a um prazo para a alteração da política agrícola norte-americana e percentuais de corte dos subsídios, devem ser negociadas as áreas para retaliação pelo descumprimento da decisão da OMC. Os produtores brasileiros de algodão preferem a primeira opção. “Para nós, o que é mais importante é uma retirada ou diminuição substancial dos subsídios”, frisa o presidente da Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa), Haroldo Cunha. A entidade bancou o processo na OMC até 2005.“Se os Estados Unidos, que são o maior exportador de algodão do mundo, não tivessem os subsídios que têm, haveria um espaço maior para aumento de preços e a gente estaria vendendo nosso algodão a um preço muito mais alto e com mais competitividade, talvez, que o próprio americano”, pondera. Ele estima que as exportações brasileiras de algodão poderiam crescer de 20% a 30% caso houvesse redução significativa dos subsídios norte-americanos. E uma das maiores conquistas poderia ser um aumento na participação no mercado chinês, maior importador de algodão do mundo.Se os Estados Unidos se mantiverem irredutíveis, os produtores brasileiros esperam que o governo negocie uma compensação para a cadeia do algodão. Alternativa seria a redução das tarifas para a entrada de têxteis brasileiros nos Estados Unidos. “A retaliação abre a possibilidade de o governo brasileiro compensar as perdas que teve. Se vai compensar as perdas, nós ajudamos no processo e é uma vitória do algodão, que o benefício seja revertido para o algodão”, pondera. Cunha acha difícil medir o impacto de uma facilitação da entrada de têxteis no mercado norte-americano. “Precisaria ver o tamanho dessa negociação e a capacidade da indústria têxtil de realmente absorver um volume maior de algodão brasileiro para ver se seria possível a gente aumentar uns 15%”, diz, ressaltando que a discussão está só começando. “Acho prematuro a gente falar em números em função de uma possível negociação destas tarifas”, ressalta. A concessão de subsídios aos produtores norte-americanos de algodão foi questionada com sucesso pelo governo brasileiro, no Órgão de Solução de Controvérsias (OSC) da OMC em 2003. O prazo para eliminação dos subsídios à exportação venceu em julho de 2005. Em setembro do mesmo ano, venceu o prazo para o fim do apoio financeiro à produção. Os Estados Unidos chegaram a suspender algumas linhas de crédito à exportação, mas mantiveram outros subsídios. Por considerar insuficientes as medidas adotadas pelo governo americano, em setembro de 2006 o Brasil acionou novamente a OMC e, no final de 2007, a instituição deu mais uma vez razão ao Brasil. Inconformado, o governo norte-americano recorreu ao Órgão de Apelação da OMC, que confirmou a decisão anterior em maio do ano passado.