Mylena Fiori e Danilo Macedo
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - A proposta de orçamento para 2010apresentada pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi bemrecebida no Brasil, mas não chega a empolgar produtores ruraise especialistas do setor agrícola. Entre as novas regraspropostas estão o fim dos subsídios aos grandesprodutores rurais, a fixação de um teto de US$ 250 milpara os programas de apoio financeiro governamental e a reduçãodos subsídios ao seguro agrícola. O deputado Luís Carlos Heinze (PP-RS), daFrente Parlamentar da Agropecuária, afirmou que o fim dossubsídios agrícolas internacionais está, háalgum tempo, entre as principais discussões dentro doCongresso brasileiro, e se diz satisfeito com o posicionamento dopresidente norte-americano. “O primeiro passo ele está dandoe o aplaudimos. Enquanto os agricultores americanos recebem altossubsídios, os nossos estão com o dinheiro encalacradono bancos. Por isso a dívida do setor é de R$ 120bilhões”, disse.Haroldo Cunha, presidente da AssociaçãoBrasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), afirmou que oschamados pagamentos diretos beneficiam, hoje, produtores de todos asculturas agrícolas. A limitação deste apoio, nasua avaliação, tira um pouco da competitividade dosagricultores norte-americanos. “É um dinheiro certo que elestinham. A gente ainda não sabe de quanto será a reduçãoe qual o tamanho do impacto disso, mas acredito quer qualquer reduçãovai significar perda de competitividade para o produtor americano”,afirmou.Uma das medidas anunciadas por Obama éjustamente na cadeia produtora de algodão: fim dos subsídiosà estocagem do produto. “Na medida em que for retirando ossubsídios em qualquer parte do processo produtivo, seja nacomercialização, na produção, nospagamentos diretos ou na estocagem, os produtores passam a perdercompetitividade e talvez migrem para outras culturas e a gente acabeganhando espaço”, disse o presidente da Abrapa.Saulo Nogueira, pesquisador do Instituto Icone,não está otimista quanto ao impacto econômico dasmedidas de Obama sobre a produção e as exportaçõesbrasileiras. Segundo ele, nos Estados Unidos há dois milhõesde propriedades rurais e apenas 110 mil faturam acima de US$ 500mil por ano e serão excluídas dos programasde ajuda financeira do governo. Muitos dos produtores que hojecompetem com o Brasil são de médio porte e continuarãorecebendo subsídios, afirmou.“É difícil estimar o real impactoporque não se sabe até que ponto esse subsídiodireto afeta a produção destas grandes propriedades,eles podem conseguir outras linhas de financiamento. Também énecessário ver qual o percentual de exportaçõesdestas propriedades que vai para países onde o Brasil tambémcompete, para onde queremos exportar”, disse.A mudança de algumas regras na concessãode subsídios também não deve influenciar asnegociações da Rodada Doha da OrganizaçãoMundial do Comércio (OMC), acredita o especialista. Issoporque em julho foi negociado que o teto para o total de subsídiosnorte-americanos ficaria em torno de US$ 14 bilhões –praticamente o dobro da ajuda financeira atualmente concedida pelogoverno aos agricultores. “Apesar de ser um sinal positivo que o governode Obama está dando aos outros países da OMC, nãovai ter muita repercussão nas negociaçõesmultilaterais de comércio pois o que está emperrando aRodada, agora, são outros temas, como as salvaguardasespeciais”, afirmou.As perspectivas são um pouco mais positivaspara o médio prazo. Saulo Nogueira acredita que deve haver umaqueda nas exportações norte-americanas de algumascommodities para determinados países como os do OrienteMédio, África e Ásia – novos mercados que oBrasil está disputando.