Ivy Farias
Enviada Especial
Bezerros (PE) - Em Bezerros, a cerca de100 quilômetros de Recife, o carnaval não émarcado pelo frevo, maracatu, coco ou cirandas, mas pelos grupos depessoas mascaradas chamadas de papangus.A tradiçãodos papangus surgiu em 1905 com um grupo de amigos que resolverambrincar o carnaval escondido das esposas. Eles se fantasiavam comfolhas de bananeiras, cobriam os rostos com sacos de embrulhar pãoe entravam nas casas das pessoas pedindo cachaça ou um prato deangu, especialidade da culinária da região.O carnaval dospapangus leva para Bezerros cerca de 300 mil turistas. O domingo setransformou no ponto alto da festa, por causa do desfile pelas ruas da cidade e da farta distribuiçãode angu aos foliões, promovida pela prefeitura.A família Naritrocou o carnaval de Olinda e Recife por Bezerros por causa da festados papangus. “Um parente nosso nos apresentou a festa hácinco anos. Desde então, estamos vindo a Bezerros”, disse asecretária Edineuza. A aposentada Vita, mãede Edineuza, disse que Bezerros tem um dos melhores carnavais dePernambuco. “O melhor carnaval do Brasil não é o deRecife e Olinda, e, sim, o de Pernambuco, que tem de tudo”,afirmou. De acordo com dona Vita, a cidade do interior é odestino favorito dos membros mais velhos da família: “osmais jovens e independentes vão para Olinda”.No carnaval dospapangus, “não revelar a identidade” éfundamental. A graça é se manter o anonimato, afirma aguia turística da cidade Monique Fernandes. Ela informou que atradição de esconder a identidade surgiu no começodo século, quando homens casados se fantasiavam para brincar ocarnaval e conquistar as mulheres sem o conhecimento das esposas. Costume que, segundo ela,permanece até hoje.O Papangu Capangas éo mais antigo grupo de Bezerros, ele existe há 40 anos eninguém sabe quem são. A única dica que que ogrupo deu para a reportagem da Agência Brasil sobre quem são os 18 integranteses, é que pertencem a uma mesmafamília. “Ninguém faz idéia de quemsomos. Só mesmo meu cachorro consegue me distinguir”, disseum deles, afirmando ainda que nem a própria esposa o reconhecequando está fantasiado.O anonimato dos foliõesé mantido em segredo indefinidamente, cada um faz a suafantasia. “Não faço a menor idéia de quempassou na minha casa para comer o angu no carnaval do ano passado”,disse Polliany Santos, diretora do Centro de Artesanato de Pernambuco.Indagada sobre se jáse fantasiou de papangu, Pollyana desconversou, respondendo que não sai de casa no carnaval.Por causa de uma leimunicipal, os papangus só podem ficar nas ruas de Bezerrosaté as 17h. Segundo a guia turística Monique Fernandes,a causa foi aumento de crimes praticados por pessoas mascaradas.“Tinha muitos crimes. As pessoas aproveitavam que estavammascaradas para cometer delitos”, disse.