Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Apesarde considerar que o sistema braille já estáuniversalizado no país, ReginaCaldeira, da Comissão Brasileira do Braille e daComissão Latino-Americana para Difusão do Braille,alerta que a aceitação obrigatória de criançascegas nas escolas não é suficiente. Para ela, épreciso que o deficiente visual seja tratado dentro das mesmascondições que o aluno que enxerga – com livrostranscritos, equipamentos adaptados e professores devidamenteorientados.
Em entrevista aoprograma Revista Brasil, da Rádio Nacional,Regina lembrou o bicentenário de aniversário de LouisBraille, criador do sistema. Quase 200 anos após osurgimento do braille, ela avaliou que o mercado brasileiro depublicações parece não estar preparado paraatender a demanda de livros transcritos.
O caminho a serpercorrido pelas editoras, segundo Regina, é longo. Ela mesmaconsidera a transcrição de livros para o braille umatarefa difícil – além dos caracteres, épreciso trabalhar todas as vantagens disponíveis na leitura ena escrita visual, que incluem ilustrações, gráficos,mapas e simbologias.
“É um poucomais demorado que a produção de livros comuns. Isso fazcom que nem sempre a criança cega que está na escolatenha o livro a tempo como as crianças que enxergam. Se nãohouver tudo isso, de nada adianta ela estar na escola”, afirmou.
Questionada sobre astecnologias à disposição do sistema braille, elaavaliou que o avanço tecnológivo existe, apesar de não chegar a todos. Atualmente, os livros são produzidos por meio deimpressoras automatizadas capazes de reduzir o tempo gasto na produção da publicação.
Em relaçãoa facilidades como a utilização de programas decomputadores desenvolvidos para pessoas cegas, Regina destacou que osinstrumentos servem apenas para auxiliar ou complementar a educação,mas que não devem substituir os livros transcritos – damesma forma como não o fazem no caso de pessoas que enxergam.
“Ao utilizar ocomputador, a pessoa cega vai simplesmente ouvir e, portanto, o braille continua sendo indispensável. Ele permite esse contatocom a escrita e com a leitura, que contribui para a formaçãointelectual de qualquer ser humano”, disse.
Regina, comodeficiente visual, atesta que o aprendizado do braille não édifícil e que, até 1825, quando Louis Brailleapresentou a primeira versão do sistema, várias outrastentativas já haviam sido feitas. Por meio do braille, apessoa cega consegue reconhecer o caractere tocando-o apenas uma vez– baseada na combinação de seis pontos que permitema composição de todas as letras do alfabeto, denúmeros, de sinais de pontuação e de acentuaçãográfica.“Passados mais de180 anos, o braille continua atendendo plenamente as necessidades deescrita e leitura das pessoas cegas”, afirmou
Desde o dia 4 dejaneiro deste ano – aniversário de nascimento de LouisBraille – esta sendo vendido nas agências dos Correios um selo comemorativo do bicentenário do criador do sistema. No Congresso Nacional,um projeto que tramita no Senado prevê a criaçãodo Dia Nacional do Braille, a ser comemorado em 8 de abril. Háplanos ainda para que seja realizada uma semana nacional emcomemoração à data, marcada para o mês deagosto, com o objetivo de instruir professores, pais e alunos.