Metalúrgicos vão pedir que TRT reconheça ilegalidade de demissões na Embraer

20/02/2009 - 16h16

Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Por considerarem ilegal a demissão de 4,2 mil trabalhadores na fábrica da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) em São José dos Campos (SP), a ForçaSindical, a Conlutas, a Federação dos Metalúrgicos do Estado de SãoPaulo e os Sindicatos dos Metalúrgicos de São José dos Campos, de Botucatu e de GaviãoPeixoto entrarão na próxima quarta-feira (25) com ação judicial no Tribunal Regional doTrabalho (TRT) em Campinas.Ascentrais informaram que vão pedir ao TRT que reconheça a ilegalidade das demissões, que foram feitas sem que a empresa tentasse negociar com osindicato e os funcionários. As entidades vão também cobrar responsabilidade social daEmbraer perante seus funcionários. Hoje (20), ementrevista coletiva, representantes do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região lembraram que há dois meses o sindicato procura a empresa para tentar discutir asituação. Segundo os sindicalistas, a própria empresa teria garantido que não haveriademissões. As demissões vêm ocorrendo desde oano passado e, somadas às 4,2 mil de ontem (19), são cerca de 5 milpostos de trabalho a menos. “A alegação da Embraer é a crise naeconomia. No entanto, ela não tomou nenhuma medida alternativa [fériascoletivas, licença remunerada] para tentar evitar as demissões.Tampouco aceitou nenhuma das várias propostas de reunião feitas pelosindicato nos últimos meses, para discutir a situação”, diz nota dosindicato.Conforme o comunicado, não há motivos para demissão de funcionários, já que, no ano passado, a Embraer bateurecorde de produção e venda de aeronaves, obtendo rentabilidade recordenos últimos anos. “De acordo com a própria empresa, ela reviu parabaixo a produção em 2009, para um total de 246 aeronaves no ano. Vejamo absurdo: no ano de 2008, quando ela bateu recorde de produção, onúmero de aeronaves fabricadas foi 204. Ou seja, mesmo na crise, onúmero de pedidos que a empresa tem é maior que o do ano anterior.”Ossindicatos informaram também que cobrarão algum tipode responsabilidade do governo federal, já que há mais de dois mesesvêm tentando marcar uma audiência na Presidência da República  paratratar do que, até então, eram ameaças de demissão na fábrica. “Queremos do governouma medida concreta, que emergencialmente edite uma medida provisóriagarantindo estabilidade no emprego para todos os trabalhadores”. Opresidente do sindicato, Adilson dos Santos, e o secretário-geral daentidade, Luiz Carlos Prates, viajaram a Brasília para tentar umaaudiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.Enquantoisso, os sindicalistas prometem continuar a campanha de mobilizaçãopara tentar reverter as demissões. Entre as ações estão a continuidadede uma abertura de diálogo entre a empresa e o sindicato e aparticipação da Justiça do Trabalho. “Queremos a readmissão imediatados trabalhadores, a estabilidade no emprego para todos os funcionáriose a redução da jornada de trabalho, sem redução de salários edireitos”, diz ainda a nota do sindicato. Entre osfuncionários demitidos pela Embraer a sensação é de tristeza e dúvidaquanto ao futuro. Há 11 anos na empresa, o montador de estruturaadaptável, Luciano de Paulo Nogueira, 35 anos, voltou dos seus 30 diasde férias e deparou com a surpresa da demissão. Ele contou que aochegar no primeiro turno de trabalho já teve a notícia em uma reuniãocom o supervisor que entregou a carta de demissão a ele e a diversoscolegas de seu grupo e de outras equipes.“Fiquei espantado,porque não sabia de nada que estava acontecendo na empresa. Haviaboatos de corte, mas a própria empresa desmentiu esses boatos, mesmodemonstrando que a empresa já não ia bem desde setembro.Eles disseram que o momento era turbulento, mas que não devíamos nospreocupar com as notícias que saíam na imprensa sobre demissão em massana Embraer”, afirmou Nogueira.Ele disse que, além de ter umafunção muito específica, sofre com uma lesão provocada pelo trabalho, oque já o tinha desviado de sua função dentro da fábrica. Com isso, adificuldade para conseguir outra vaga de trabalho aumenta porque, alémdisso, o salário é diferenciado do de outras funções. “Assim como eu, pelomenos 20 colegas lesionados estão na rua. E há um colega, que faz tratamento contra câncer, ficou sem empregoe sem ter como se tratar.”Nogueira espera que as autoridades das três esferas degoverno consigam interferir na questão e encontrar uma solução para asdemissões. “Espero que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não sejaomisso, que faça alguma coisa pelos trabalhadores assim com fez pelaempresa quando ela precisou de financiamentos.”