Putin condena intervenção excessiva do Estado na economia

28/01/2009 - 20h24

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Principal convidado da abertura do 39º Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, o primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, surpreendeu aos demais debatedores ao condenar a intervenção excessiva do Estado na economia e a “fé cega na onipotência do Estado”, como reação à crise financeira internacional. “O aumento do papel do Estado em tempos de crise é uma reação natural aos reveses do mercado. Em vez de aperfeiçoar os mecanismos de mercado, alguns são tentados a ampliar a intervenção estatal na economia até o máximo possível”, disse Putin.O primeiro-ministro russo também criticou o antigo regime soviético por concentrar poderes no Estado. “ No século 20, a União Soviética fez o Estado absoluto. No longo prazo, isto tornou a economia soviética completamente não-competitiva. Esta lição nos custou caro. Tenho certeza de que ninguém quer ver isso se repetir”, afirmou. Putin alertou contra a tentação de se adotar medidas isoladas para amenizar os efeitos da crise – como o recrudescimento do protecionismo - e ressaltou que o mundo terá mais problemas se tratar apenas os “sintomas da doença”.  “A crise afetou a todos nestes tempos de globalização. Independentemente de seu sistema político ou econômico, todas as nações acabaram no mesmo barco”, afirmou, frisando que é preciso identificar as razões da crise.Na sua avaliação, uma das causas da crise foi a falta de regulação do sistema financeiro.  Putin mencionou, ainda, o excesso de expectativa – das corporações à população em geral. “Infelizmente, o excesso de expectativas não ocorreu apenas na comunidade de negócios. Eles aceleraram a marcha para o rápido crescimento dos padrões pessoais de consumo. Temos que admitir que este crescimento não foi respaldado por um potencial real”, disse. “Esta pirâmide de expectativas desabaria cedo ou tarde. Na verdade, isto está acontecendo sob nossos olhos”, alertou.Putin também falou sobre os efeitos da crise no seu país. Reconheceu que a economia russa está sendo “seriamente afetada” mas  disse que, ao contrário de ourtos países, a Rússia acumulou grandes reservas. “Elas expandem nossas possibilidades de passar com confiança pelo período de instabilidade global”, afirmou. Ciente da curiosidade geral quanto às medidas que serão adotadas pelas economias emergentes – que, segundo todas as previsões, afetará o crescimento mundial em 2009 -, Putin revelou que a estratégia russa se fundamenta no estímulo à demanda doméstica, no oferecimento de garantias sociais à população e na criação de novos empregos. Lembrou, ainda, que o governo russo já reduziu os impostos sobre a produção e otimizou os gastos públicos. “Além de medidas imediatas, estamos trabalhando para criar uma plataforma de desenvolvimento pós-crise”, disse.Vladimir Putin foi presidente da Rússia de 2000 a 2008, quando foi nomeado primeiro-ministro, mas é a primeira vez que participa do Fórum Econômico Mundial.