Pescadores fluminenses vão à Justiça pedir punição para concessionária por morte de peixes

28/01/2009 - 23h24

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Os pescadoresprejudicados pela mortandade de peixes na Lagoa de Araruama, na Região dos Lagos, querem responsabilizar criminalmente aconcessionária de água e esgoto da região, aProlagos, pela morte de pelo menos 700 toneladas de váriasespécies (inclusive nobres como robalo e carapeba) nos últimosdias. O incidente afetou 20 mil pescadores que vivem da atividade nosmunicípios banhados pela laguna. Eles pretendem exigir naJustiça indenizações da empresa.Amanhã (30), umacomitiva de quinze pescadores, representando as associaçõesda região, vai ao Ministério Público do Rio de Janeiro eFederal exigir a intensificação das investigações sobre o caso. Na avaliação dospescadores, houve crime ambiental. Eles acreditam que a morte dospeixes foi causada pela decisão da Prolagos de despejar esgotoin natura na lagoa, na última semana, quandoapareceram mortos os primeiros animais.O presidente da Colôniade Pescadores de São Pedro, Haroldo Pinheiro, destaca que oincidente ocorreu às vésperas da melhor safra dosúltimos oito anos. Ele explica que a laguna passou por umgrande processo de deterioração e começou a darsinais de recuperação, há sete meses. Os grandescardumes apareceram e, a água, antes turva, voltou a ficarcristalina. “Estávamos nos preparando para o melhor verãode nossas vidas”, afirmou.Os pescadores contamque até duas semana antes do incidente, retiravam toneladas depeixes da lagoa, diariamente. “A quantidade era tanta, queavisávamos uns aos outros sobre os cardumes, porque nãotínhamos como carregar tudo em um barco só”, afirmouJosé Ricardo de Souza, da colônia da Praia da Baleia, emSão Pedro da Aldeia. “Depois de tanto tempo, a felicidadeera tanta que dava até vontade de nadar no cardume”.Diante da expectativa,após dois meses de defeso – para os peixes procriarem – acomunidade de dois mil pescadores da pequena cidade de SãoPedro, se preparou. “Gastei cerca de R$ 8 mil, comprando rede decalibre mais grosso, porque a minha não ia segurar (os peixesque estavam grandes). Agora, nem sei como vou pagar”, desabafouLuís Felipe de Mendonça. Assim como ele, os pescadoresestão desolados.“Queremos provar quea culpa desse desastre é da Prolagos”, afirmou o presidenteda colônia de São Pedro da Aldeia. “Vamos exigir opagamento de multa e, se o crime for comprovado, pedir ressarcimentopelos prejuízos”, completou Haroldo. Segundo ele, o despejonão matou apenas os cardumes, mas distruiu a cadeia dereprodução dos animais. “Levará, pelo menos,dois anos para que a lagoa se recupere e inicie um novo ciclo [dereprodução]”.A Prolagos confirma queabriu as comportas com esgoto sem tratamento na laguna, mas defendeque os dejetos estavam diluídos e não causaram danos. Aempresa informa que só trata esgoto em tempo seco e por contadas chuvas, o sistema estava acima da capacidade.“Nãotínhamos outra opção. Se não fizéssemosisso, o esgoto voltaria para a casa dos moradores”, afirmou odiretor Comercial da Prolagos, Pedro Alves. Na avaliaçãoda empresa, foi a chuva que desequilibrou a salinidade da águae afetou os animais.Para minimizar osprejuízos da comunidade, ontem (28) a prefeitura de SãoPedro da Aldeia decretou situação de emergência edeve ser seguida por outros municípios banhados pela lagoa. Oobjetivo é garantir seis meses de indenizaçãoaos pescadores. Eles devem receber R$ 450 por mês. Caso oincidente fosse evitado, entre janeiro e abril, os trabalhadorespoderiam lucrar até R$ 2 mil por semana.“Como fica a cabeçade um pescador se nos melhores quatro meses do ano não teremosdinheiro nem para pagar as dívidas”, questionou JoséRicardo.