Primeira clínica pública de SP para tratar dependentes químicos não aceitará infratores

28/01/2009 - 4h32

Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A primeira clínica pública do estado de São Paulo para atendimento de adolescentes dependentes de álcool e de drogas não vai aceitar infratores. O tratamento só será oferecido aos adolescentes que não tenham sido condenados a cumprir pena. “Não vai haver diferenciação por renda. O principal é que o paciente esteja envolvido com dependência química e que ele queira em algum nível ser tratado, ele não ficará aqui obrigado. Não é um lugar fechado, não é um lugar preso, ele tem que participar desse trabalho. Não vamos receber pessoas que estão apenadas, que estão em regime fechado. Aqui é um regime aberto e não dá para misturar”, afirma o médico diretor da clínica, Manfred von Schaaffhausen.O projeto, uma parceria do Hospital Samaritano com a Secretaria de Saúde do estado, pretende atender por ano até 120 jovens entre 14 e 18 anos. O encaminhamento dos jovens será feito por meio das Secretarias de Saúde dos municípios, Ministério Público, Poder Judiciário, além dos conselhos tutelares.A exclusão de jovens infratores gerou polêmica no meio médico. O psiquiatra da Universidade Federal de São Paulo, Marcelo Niel, criticou a não-aceitação de adolescente com passagem pela polícia na clínica pública. Para ele, o modelo implantado poderá gerar “elitização” do acesso ao tratamento. “A minha principal restrição é limitar o atendimento a adolescentes que não tenham passagem pela polícia. A gente acaba excluindo esses menores e que são os que mais precisam de acesso a esse tratamento. Estão ligados à população de mais baixa renda, de menor poder aquisitivo que não tem acesso a um tratamento particular, a um tratamento privado”, afirmou.O tratamento em uma clínica particular pode chegar a custar R$ 15 mil por mês. O preço alto foi o principal empecilho para a recuperação da jovem Camila, dependente química, moradora da periferia de São Paulo. “Pensei em interná-la, não fiz isso por causa dos preços”, explica sua mãe, Valdinete. “Quando ela tem vontade de usar a droga fica muito agitada, nervosa, quer bater, quer quebrar. Se estivesse numa clínica seria mais fácil superar esse momento”, afirma.