Economistas do governo apostam em inflação abaixo da meta de 4,5%

21/01/2009 - 17h39

Luciana Lima e Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A expectativa dos técnicos do Ministério da Fazenda é que a inflação de 2009 fique abaixo de 4,5%, centro da meta estabelecida pelo governo. A avaliação é do secretário adjunto de Acompanhamento Econômicoda pasta, Antonio Henrique Silveira. “A nossa expectativa éque nesse ano a inflação fique abaixo do centro dameta. Com essa dinâmica de preços de commodities[soja, minério de ferro] e a reação da economia brasileira ao choque do dólar,que foi um subproduto da crise financeira, com a reaçãodos últimos dois meses, temos clareza de que nãoé só possível ficar no centro da meta, émais do que provável ficar abaixo do centro da meta. O quadroinflacionário está muito tranqüilo”, avaliouSilveira.Ainflação baixa, para o governo, significa que, mesmodiante da crise financeira internacional, cujos efeitos foramsentidos no Brasil com mais intensidade no último trimestre de2008, há espaço para estimular investimentos com oobjetivo de garantir empregos. Dentre esses estímulos,inclui-se a redução da taxa de juros, sobre a qual ogoverno evita opinar, deixando a decisão exclusivamente para oBanco Central. “Doponto de vista da política macroeconômica, o ideal éque se tenha inflação baixa. Não é bomque se tenha deflações exageradas. Por isso oMinistério da Fazenda entende que há espaço paradar estímulo para a economia sem comprometer o processoinflacionário. É claro que a decisão sobre juroscabe exclusivamente ao Banco Central, mas hoje a gente tem clarezade que é possível manter esses estímulos",considerou o secretário. O maior desafio dogoverno, de acordo com o secretário, é a capacidade deestimular a inciativa privada para investir em projetos quenecessitam de um aporte imediato de grande quantidade de recursos.Por esse motivo, o governo decidiu manter a construçãode infra-estrutura ferroviária com recursos públicos etambém adiou os leilões de concessão para aoperação dessas ferrovias para o segundo semestre de 2009,quando espera ter uma situação econômica mundial maisestável. “Estamos em um momento de estrangulamento do mercado financeiroe a capacidade de mobilizar capital de terceiros, seja atravésde empréstimos e financiamentos, seja através demercado de capitais, é limitado”, avaliou o secretário. “Não querdizer que seja inviável fazer uma licitação. O momento precisa ser muito bem escolhido. O efeito de se colocar umleilão e não aparecer comprador é muito ruim”,justificou.O secretáriodisse ainda que o governo vai ainda reduzir, ao máximo, asdespesas com custeio do setor público, com o objetivo de priorizar os investimentos.“Vai ser preciso fazer uma gestão de boca-de-caixa, extremamente cuidadosa. Isso foi o que o presidenteLuiz Inácio Lula da Silva determinou que fosse feito”, disseo secretário.A preocupaçãoprincipal, de acordo com Silveira, é conter as demissões das empresas privadas,que em dezembro atingiram níveis maiores que a média domês. De acordo com números do Cadastro Geral deEmpregados e Desempregados (Caged), divulgados no início dasemana pelo Ministério do Trabalho, houve 650 mil demissõesem dezembro, mês que geralmente registra uma taxa de demissõesde 300 mil.“Sem dúvidahouve impacto da crise na economia brasileira. Mas, em relação ao emprego, nãoestamos em uma situação de corte generalizado de vagasem todos os setores. Alguns setores foram mais atingidos, e o governotem se mobilizado para ajudá-los, como o automobilístico, que teve isenção de IPI (Imposto sobreProdutos Industrializados). Os setores ligados ae alimentos, aocomércio varejista, em geral, ainda não perceberamsinais de crise . Eles continuam com expectativa real de crescimentopara 2009, porém em um patamar um pouco abaixo de 2008”, destacou.De acordo com osecretário, o governo federal espera que os estados tambémcontribuam com a desoneração da cadeia produtiva com oobjetivo de estimular os investimentos privados, uma medida quebeneficiaria setores de máquinas e equipamentos, muitoprejudicados atualmente com os adiamentos dos projetos por parte dosinvestidores privados. “O setor de máquinas e equipamentos percebeu o impacto docancelamento dos novos investimentos, tendo uma retração. O governo está procurando espaçopara baratear o investimento. Existem possibilidades de inciativasfederais para baixar a carga tributária nos investimentos”, considerou.Para o secretário,o momento mais crítico da crise financeira internacional eseus efeitos no Brasil foi superado com medidas que garantiram aliquidez do sistema bancário no final de 2008, como aliberação do empréstimo compulsório, porexemplo. “Já passou o momento mais agudo da crise.Havia risco de paralisia da atividade econômica por falta decrédito. Nãohá mais sinais de crise no sistema bancário no Brasil.Os balanços do terceiro trimestre foram publicados e mostraramque os principais bancos estão em uma posiçãosólida. Não vemos risco de crise bancária”,destacou.