Parentes e amigos lamentam que líder acreano não tenha visto conquistas

21/12/2008 - 17h43

Beth Begonha e Luana Lourenço*
Repórteres da EBC
Brasília - “Nocomeço, pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras,depois pensei que estava lutando para salvar a floresta amazônica,agora percebo que estou lutando pela humanidade”. A frase doseringueiro, líder sindical e ambientalista Chico Mendes ecooupela floresta e chamou a atenção do mundo para aresistência de trabalhadores contra a transformaçãoda Amazônia em fazendas.

Vinteanos depois da morte de Chico Mendes, assassinado com um tiro deespingarda, a família, os amigos e companheiros de resistêncialamentam que o seringueiro não tenha vivido para ver de pertoas conquistas pelas quais lutou.

“A lutanão foi em vão. A nossa pena é o Chico nãoestar aqui entre nós, vendo que as coisas estão comoele queria. Hoje, o seringueiro zela pelo seu lugar, cuida da florestapara os filhos e netos”, conta o primo e também serigueiroSebastião Teixeira Mendes. “O que ele deixou para mim foiaquela mente de aconselhar as pessoas, de saber respeitar anatureza”, acrescenta.

Amigo deChico Mendes, o líder da Reserva Extrativista Cazumba Iracema,Raimundo Silva, aponta a criação das reservas extrativistas (Resex) como um dos principais legados da luta docompanheiro. As Resex são unidades de conservaçãoque permitem o uso sustentável dos recursos naturais pelaspopulações que vivem no interior dessas áreas.

“Eleficou famoso depois que faleceu, mas deixou uma coisa muitoimportante que foi o incentivo. Hoje, eu defendo muito areserva extrativista, porque vejo que a forma que nóstemos de segurança, para nossa saúde, é areserva. Se passa de carro ou de avião por onde não éreserva, você já percebe o tamanho do desmatamento, nãotem mais quase floresta”, compara.

Alémda luta da floresta, Chico Mendes também é lembradopela defesa da integração entre os povos da floresta –índios, ribeirinhos, extrativistas – e pela educação.Depois de aprender a ler e a escrever com amigos, Chico Mendes passou aalfabetizar os companheiros do seringal.

“Eraassim, quem sabia um pouco ensinava para os outros. Depoisdo nosso movimento, foi que começamos a criar umas escolas nointerior. Nós fomos ter o direito de ter uma escola, posto desaúde. Hoje, temos escolas até o segundo grau”,comemora Sebastião Mendes.

A viúva doseringueiro, Ilzamar Mendes, acredita que em 20 anos a luta ganhoureconhecimento nacional, o que garantiu conquistas para ostrabalhadores da floresta.

“Falta muitacoisa, mas não somos mais sozinhos. Agora, temos autoridadesque nos apóiam, pessoas que nos ajudam a defender a causa doambientalismo”, avalia.

O seringueiro Neto, da Associaçãodos Produtores doSeringal Equador, vaialém e compara a vida e a luta de Chico Mendes à trajetóriade um mártir, em nome da Amazônia.

“Temmuita gente que quase não acredita mas, na minha visão,eu que trabalhei com ele, o Chico Mendes fez papel de JesusCristo: morreu para dar vida a muita gente”.