Idéias de seringueiro ainda influenciam políticas de desenvolvimento sustentável

21/12/2008 - 18h07

Beth Begonha e Luana Lourenço
Repórteres da EBC
Brasília - Em 22 dedezembro de 1988, um tiro de espingarda matou Francisco Alves MendesFilho, o Chico Mendes, que de líder sindical e seringueirotransformou-se em ícone da preservação da Amazônia. Vinte anos depois da morte,suas idéias ainda influenciam as políticas públicas para o desenvolvimentosustentável.

Precursor do ambientalismo brasileiro, Chico Mendes nasceu e viveu nosseringais de Xapuri, no Acre. “Ele sempre foi um menino pacífico,de natureza boa. Era sabido na leitura, muito inteligente. Tudo paraele era na calma”, lembra a tia, Cecília Mendes.

Conhecedorda floresta, Chico Mendes defendia o direito à exploraçãodos recursos naturais, mas sem o esgotamento. A preocupaçãocom a sustentabilidade é uma das lembranças do primo ecompanheiro de resistência, Sebastião Teixeira Mendes.“Ele dizia: 'Tião, é o seguinte: eu botei na minhacabeça que a gente tem que preservar', aí saiu pelomundo com essa história de preservar. Mas sempre voltava, nãoesquecia daqui”.

A lutacontra a transformação da floresta em pasto paracriação de gado, intensificada a partir do fim dadécada de 1970, deu visibilidade à luta dos seringueirosdo Acre, que ganharam os jornais nacionais e internacionais com oschamados empates, ocasiões em que grupos de trabalhadoresformavam barreiras humanas para impedir o trabalho das motosserras.

Cunhadado ambientalista, Deusamar Mendes lembra que os empates reuniamhomens, mulheres e até crianças contra o desmatamento.“Quando se sabia que ia ter umaderrubada, um vizinho avisava o outro, marcava um lugar para todos seencontrarem. Ia todo mundo e chegava-se no local da derrubada,improvisava barracas de lona e avisava que eles teriam que parar aderrubada e sair pacificamente. Sabíamos que eramtrabalhadores, mas dizíamos que aquilo não era um meiode sobrevivência; iam atrapalhar a vida de muitos outros”,relata.

Àfrente dos trabalhadores da floresta, Chico Mendes assumiu asecretaria do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Brasiléiae em seguida fundou o STR em Xapuri. Dirigiu a Central Únicados Trabalhadores no Acre, foi vereador pelo MDB e participou dafundação do PT no estado, junto de nomes como asenadora Marina Silva e o atual governador do Acre Binho Marques.

“Asquestões ambientais passaram a ser debatidas dentro domovimento sindical a partir do envolvimento e da atuaçãodireta do Chico”, disse o vice-presidente do Conselho Nacionaldos Serigueiros, Júlio Barbosa. Em 1987, foi o primeirobrasileiro a receber o prêmio Global 500, da Organizaçãodas Nações Unidas (ONU).

Com osempates e a repercussão internacional da luta dos povos da floresta pela preservação da Amazônia, ChicoMendes passou a conviver com as ameças de políticos efazendeiros da região, tanto que chegou a enviar paraautoridades locais uma relação de nomes de possíveisalgozes. Os nomes de Darly Alves e do filho Darci, condenados peloassassinato, estavam na lista.

“Pistoleirossempre ameaçavam: telefonavam, deixavam recados embaixo daporta. Um desses dizia assim: 'o seu fim está próximo,você vai ter um belo Natal'. Foi uma morte anunciada, que oChico avisou ao mundo inteiro”, lembra Deusamar.

Ofazendeiro Darly Alves e o filho Darcy foram apontados como mandantee autor, respectivamente, da morte de Chico Mendes. Em 1990, os doisforam condenados a 19 anos de prisão pela morte doseringueiro. Fugiram da prisão em Rio Branco, em fevereiro de1993, e só foram recapturados três anos depois. Emsetembro deste ano, a Justiça concedeu o direito de prisãodomiciliar para Darly, que hoje tem 71 anos.