Ipea: crise internacional favorecerá o controle da inflação em 2009

18/12/2008 - 18h25

Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A desaceleração da demanda no mercado interno brasileiro contribuirá para manter sob controle a inflação em 2009. Esta foi uma das conclusões anunciadas hoje (18) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), durante o lançamento da Carta de Conjuntura – publicação que apresenta pesquisas e análises do órgão sobre as economias mundial e brasileira.  “De uma forma geral, a gente pode dizer que a economia brasileira já vem sofrendo os impactos da crise internacional. O nível de atividade vem caindo e, assim como a produção industrial, as vendas já estão desacelerando. As exportações e as importações também vêm sendo afetadas nos últimos dois meses, sobretudo pela queda dos preços internacionais", afirmou o coordenador do Grupo de Análise e Projeções do Ipea, Marcelo Nonnenberg.Nonnenberg acrescentou, no entanto, que os efeitos da crise no Brasil ainda são mínimos."Esses efeitos ainda são relativamente pequenos, uma vez que o emprego continua crescendo, apesar de haver diversas notícias relatando aumento de férias coletivas e algumas demissões pontuais”, disse.O emprego, segundo dados da pesquisa, apresenta indicadores bastante favoráveis, com a população ocupada aumentando e a taxa de desemprego caindo. “Em outubro, a taxa de desocupação foi de 7,5%, situando-se 1,2 ponto percentual abaixo do observado no mesmo mês do ano anterior. No entanto a gente não sabe até quando isso vai durar. Possivelmente a retração da produção e das vendas e os impactos no consumo acabarão tendo algum impacto negativo sobre o emprego”, informou Nonnenberg.Por enquanto, a crise também não está afetando as finanças públicas. Segundo o coordenador do Ipea, as receitas  continuam crescendo  em ritmo bastante elevado. Dados até outubro indicam crescimento da ordem de 10% em termos reais para as receitas tributárias. “Apesar do aumento das despesas nominais, as despesas correntes, como proporção do PIB [Produto Interno Bruto, a soma de todas as riquezas do país], permanecem caindo ligeiramente, bem como a dívida interna e os gastos com juros. Dessa forma, tanto o superavit primário do setor público quanto o déficit nominal apresentaram resultados favoráveis”, explicou.Sobre a inflação, a pesquisa revelou que o principal aspecto detectado foi a redução dos preços dos alimentos. “Eles contribuíram favoravelmente para a manutenção da inflação num nível um pouco mais baixo ao longo dos últimos meses. Não há nenhuma indicação de que o IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo]  ultrapasse os 6,5%.De acordo com o estudo do Ipea, "a incerteza quanto ao tamanho e ao tempo de duração da crise, aliada a uma retração do crédito no mercado doméstico, também deve gerar desaceleração da demanda interna, contribuindo para manter a inflação em 2009 sob controle, apesar do contexto cambial". Nonnenberg prevê  que a queda do preço do petróleo –  11%, até outubro –  também puxará a inflação para baixo. A expectativa do Ipea para 2009 é a de um crescimento menor do que o observado neste ano, “mas ainda é cedo para visualizarmos de quanto será essa desaceleração.  Sobretudo porque ainda não sabemos como vai ser o segundo semestre de 2009 nos Estados Unidos e na Europa”, disse o coordenador. Para Nonnenberg, “só com o tempo saberemos se os pacotes de políticas fiscais e monetárias adotadas pelos governos americano e europeus surtirão efeitos ainda em 2009 ou a partir de 2010”. O coordenador da pesquisa disse ainda que se economia continuar desacelerando da forma como tem acontecido, é de se esperar que o crescimento das receitas diminua com consequente queda no superávit. “As últimas medidas tomadas nos sentido de redução de impostos contribuem para este cenário. O governo vem tentando usar a política fiscal de forma anti-cíclica para evitar uma recessão. A redução de impostos, nesse sentido, aumentaria um pouco o déficit, mas como ainda temos um superávit primário que vem crescendo, a redução dele [superávit] não traria nenhuma consequência importante”, afirmou.O consumo e os investimentos, com formação bruta de capital fixo, foram fatores determinantes para que o Produto Interno Bruto (PIB) ficasse acima do esperado. “Sem refletir, ainda, os efeitos da crise internacional, o PIB registrou, no terceiro trimestre,  uma expansão de 6,8% na comparação com o mesmo período de 2007, completando o quarto trimestre consecutivo com taxas superiores a 6%”.Para o quarto trimestre, o estudo prevê que a economia sofrerá desaceleração em virtude dos efeitos do ciclo de aperto monetário iniciado em abril além, é claro, dos reflexos da crise internacional. “Mas o Brasil nunca esteve tão bem posicionado para enfrentar uma crise externa como agora. As finanças públicas estão numa situação bastante favorável, a dívida interna está relativamente baixa, frente ao que havia anos atrás, além de não estar indexada ao dólar. Muito pelo contrário. Ela está favoravelmente indexada porque a desvalorização do real aumenta o valor das reservas internacionais em reais, reduzindo a dívida interna líquida”, disse Nonnenberg.. De acordo com o coordenador, a boa situação econômica vivida pelo país não significa que a crise financeira internacional não cause problemas por aqui. “Além disso temos exportações muito elevadas,  superávit comercial, reservas internacionais próximas a US$ 200 bilhões, e uma economia bastante diversificada. Mas é bom lembrar que estarmos bem preparados para enfrentar a crise não significa que ela não nos afetará”, avaliou.