Pobreza extrema contribui para exploração sexual, diz superintendente da PRF no Pará

26/11/2008 - 9h02

Mariana Jungmann
Enviada especial
Rio de Janeiro - A exploraçãosexual de crianças e adolescentes está ligada àpobreza extrema e falta de apoio familiar. A opinião édo superintendente da Polícia Rodoviária Federal noPará, Ismar Ferreira, que combate o problema num dos estadosde maior incidência desse tipo de crime.“Na Amazônia,em 90% dos casos elas são colocadas nisso pela família,por uma questão de subsistência e por falta de políticassociais naquela região para tirar a criança daquelasituação de risco”, diz o policial, que participa do3º Congresso Mundial de Enfrentamento à ExploraçãoSexual de Crianças e Adolescentes, no Rio de Janeiro.Segundo ele, háduas formas mais comuns de exploração sexual decrianças na Amazônia. Nas rodovias, ela geralmente sãooferecidas pelas famílias a caminhoneiros por valoresirrisórios. Além disso, pessoas com maior poderaquisitivo costumam pegar as crianças em casas de famíliaspobres para “criar e fazer serviços domésticos”.Muitas vezes, assinala Ferreira, elas acabam virando escravassexuais.“Uma vez eu desciuma área perto do Rio Gurupi, na Amazônia, e láeu encontrei um senhor de 72 anos vivendo com uma criança de11 que ele trocou por um saco de farinha”, conta Ferreira. Paraele, a solução do problema não estáapenas na prisão dos culpados, mas no apoio social àsfamílias. “Precisamos deixar de lado essa visãopolicialesca e ter um olhar mais voltado para a família dessacriança, para que ela não seja mais usada comomercadoria de troca.”Foi também noPará que a Agência dos Estados Unidos para oDesenvolvimento Internacional (Usaid) financiou um estudo sobre aexploração sexual de crianças em regiõesde garimpos. A pesquisa, que também identificou um perfil demeninas pobres e na faixa etária de 15 anos aproximadamente,foi encaminhado à Secretaria Nacional de Justiça eservirá de embasamento para as ações do PlanoNacional de Enfrentamento ao Tráfico de Seres Humanos no estado.“O Pará vaiser um dos estados chave na implementação do plano eessa região de Itaituba, onde o estudo foi realizado, éumas das que registram maior incidência entre as áreasde garimpo”, explica Alisson Nascimento, do Programa de Enfrentamento ao Tráfico de Seres Humanos e Apoio a Jovens em Situação de Risco da Usaid. Segundo ele, “a pesquisa fez uma identificaçãoinicial do problema e propôs algumas soluções”.