Trabalhadora aponta redução das desigualdades de gênero no setor agrícola

24/11/2008 - 13h32

Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O Brasil avançou significativamente na redução das desigualdades de gênero no trabalho agrícola nos últimos 25 anos, mas ainda é preciso caminhar mais. A avaliação é da agricultora familiar Eunice Silva, representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). “Hoje já é real no Brasil a mulher ser dona de sua propriedade, como chefe de família. Já existem terras de assentamento em nome de mulheres, mesmo que elas tenham marido. Essa realidade que temos observado na prática em nossos estados há alguns anos era impensável. Poderíamos até ser sacrificadas, como aconteceu com Margarida Alves”, destacou Eunice, referindo-se a uma líder agrícola paraibana, que morreu em 1983 defendendo os direitos dos trabalhadores da terra. Eunice Silva participou hoje (24), no Rio de Janeiro, da 10ª Reunião Especializada sobre Agricultura Familiar, que reúne, até  quinta-feira (27), representantes de movimentos da sociedade civil e dos governos do Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Bolívia e Venezuela. Segundo ela, a aplicação de políticas públicas específicas voltadas para a redução das diferenças entre os gêneros no acesso à terra é fundamental para garantir maior desenvolvimento da atividade.“Se os lotes de reforma agrária saíssem só em nome das mulheres, o governo teria menos problemas com a questão do abandono de terras. A mulher é mais persistente. O homem, se precisar enfrentar um problema financeiro, se desfaz da sua propriedade mais facilmente”, destacou Eunice, que precisou convencer o marido a não deixar a propriedade na qual foram assentados em 1998. O Brasil ainda não tem dados precisos sobre o perfil das trabalhadoras agrícolas. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário, alguns estudos estão em andamento, e os primeiros resultados começarão a ser conhecidos em fevereiro do próximo ano. De acordo com a representante do Fórum da Agricultura Familiar da Argentina, Claudia Reda, situação parecida é observada no país vizinho, e representa um desafio para essas trabalhadoras. “O trabalho da mulher no campo sempre esteve presente, mas é muitas vezes tornado invisível”, disse Claudia, que defende a participação da mulher no campo também para transmissão da herança cultural do meio rural.“Uma das coisas que acho mais importantes no papel da mulher no campo é a possibilidade de transmissão da identidade [rural], dos costumes, da diversidade de produção, das tecnologias que não impactam negativamente o meio ambiente. A mulher tem essa capacidade de ensinar aos filhos e à família o que verdadeiramente significa ser agricultor familiar, que representa um modo de vida”, ressaltou.