Pesquisa da FGV conclui que setor informal pode amortecer efeitos da crise externa

24/11/2008 - 18h43

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O aquecimento do mercado doméstico impulsionado pela nova classe média brasileira, formada em grande parte por microempresários, pode  funcionar como uma proteção ao Brasil contra a crise financeira internacional. 

Essa é uma das conclusões da pesquisa Microcrédito, Dinâmica Empresarial e a Nova Classe Média: Impactos do CrediAmigo”, divulgada hoje (24), pelo economista-chefe do Centro de  Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas, Marcelo Néri.

Segundo a pesquisa, 67% dessa nova classe média estão concentrados nas classes sociais A, B e C, de acordo com números disponíveis até outubro deste ano. Em 1992, esse número era de 45%. “O setor informal sempre foi um bom colchão contra essas quedas [de crédito]”, disse Néri.

As conclusões do estudo vêm da análise da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Néri destacou que a mobilidade social, ou seja, a capacidade de passar para uma classe de melhor poder aquisitivo, entre os microempresários, é maior do entre a população em geral. A concentração do restante da população nas classes A, B e C, por exemplo, é de 56,9%, de acordo com a pesquisa.

E asprojeções para até o final de 2008 indicam que 72% dos microempresários estarão nessas mesmas classes, de onde se deduz que a mobilidade social do grupo é maior. De 2007 para 2008, por exemplo, 48% dos microempresários passaram da classe E para classes de maior renda.

Segundo Néri, ao analisar os dados desde 2002, percebe-se que a probabilidade de ascensão é maior no período recente. Antes, só 42% dos microempresários tinham como mudar de classe. Isso reforça a avaliação da pesquisa de que, até agora, osindicadores são de uma economia aquecida. “Então, você desaquecer apartir desse momento não é tão dramático”, avaliou o economista.

A pesquisa da FGV usou também os dados da Pnad referentes a emprego para avaliar a importância do mercado informal na economia. Em 2007, por exemplo, foram gerados no país 1,8 milhão de  postos de trabalho com carteira assinada, enquanto se extinguiam  400 mil postos de trabalho informais no mesmo ano. “Ou seja, o setor formal estava aspirando tudo. Só que agora, em época de crise, o setor informal, se tiver desemprego [no setor formal], pode ajudar a amenizar os traumas de um desaquecimento. Então, a gente tem de fato alguns amortecedores [contra a crise]. E um deles é o mercado informal, quer dizer, o mercado consumidor interno brasileiro, que vem crescendo bastante nos últimos anos”, afirmou Néri.

Atualmente, existem no país cerca de 22,1 milhões de micro empresários, englobando desde ambulantes até profissionais liberais, cuja renda média  por habitante, alcançou R$ 761 no ano passado. A renda média per capita do total da população foi de R$ 526 em igual período. O estudo aponta, ainda, que a renda per capita dos microempresários subiu 44% desde 1992, enquanto a da população total subiu 29%. O aumento da renda dos microempresários é impulsionada, em especial, pelos programas de transferência de renda do governo, com destaque para o Bolsa Família e a aposentadoria rural, diz o estudo da FGV.