Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Pela primeira vez desde o início da greve dos bancários, no dia 1º de outubro, representantes da categoria e dos bancos vão sentar à mesa de negociação. O encontro ocorrerá amanhã de manhã (16) na capital paulista.A reunião que reabre as negociaçõesentre patrões e empregados e pode pôr fim à greve é resultado de umaproposta de conciliação apresentada ontem (14) pelo Tribunal Regional doTrabalho (TRT) de São Paulo. Segundo os trabalhadores, o movimentoatinge cerca de 5,2 mil agências bancárias em todo o país.
Embora a proposta do TRT envolva somenteum dissídio entre à Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) e sindicatos debancários de São Paulo e do Mato Grosso do Sul, a reunião de amanhã vai definiro rumo da greve em todo o país, já que a negociação da categoria é unificada. Ainformação é de Wagner Freitas, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro(Contraf/CUT) e do Comando Nacional dos Bancários.
“Como a nossa negociação é nacional, a discussão de amanhã é para São Paulo e para mais 147 sindicatos do país",disse o sindicalista;
Segundo Freitas, a expectativa é que osbancos levem para o encontro uma proposta mais favorável que a primeiraapresentada no dia 24 de setembro e rejeitada pelos bancários. Em entrevista àAgência Brasil, ele descartou a possibilidade de suspender a greve para darcontinuidade às negociações.
“Se a Fenaban quer que agreve acabe amanhã, vá à negociação com uma proposta que contemple nossasreivindicações e nós a levaremos à apreciação das assembléias. Se asassembléias acatarem a proposta, a greve acaba por essa aceitação; senãoacatarem, a greve continua”, afirmou.
Ele esclareceu que a possibilidade desuspensão de greve está sendo avaliada apenas pelos Sindicato de São Paulo e doMato Grosso do Sul, já que é um dos itens da proposta de conciliação do TRT, quedeve ser aceita ou não por eles até a próxima sexta-feira (17).
“Não há orientação do Comando Nacionalpara que as assembléias de amanhã analisem suspensão ou não de greve já queesse é um problema restrito à base de São Paulo. Hoje o que temos da avaliaçãoe de orientação é de continuidade da greve”
Além da diferença de cinco pontospercentuais entre o índice de reajuste de salário reivindicado pelos trabalhadores(12,5%) e o oferecido pelos patrões (7,5%), os outros dois principais pontosque emperram as negociações são alteração no pagamento dos benefíciosauxílio-creche e vale-transporte, conforme apontaram hoje representantes debancários e banqueiros durante audiência pública promovida na Procuradoria Geraldo Trabalho, em Brasília.
Segundo Eduardo Araújo, diretor doSindicato dos Bancários do Distrito Federal, a proposta da Fenaban traz perdaspara os trabalhadores já que reduz de sete para seis anos a idade que dádireito para o pagamento do auxílio-creche e aumenta 4% para 6% olimite de desconto do vale-transporte.
De acordo comos representantes dos bancos, as mudanças atendem a alterações na legislaçãovigente no país, que precisa ser cumprida bancos, já que efetuar pagamento alémdo previsto legalmente seria uma forma de desconfigurar os benefícios e osvalores pagos com esse título seriam na verdade inclusos como salário.O principal questionamento do procurador do TrabalhoValdir Pereira da Silva, da 10ª Região, que convocou a audiência em Brasília, foio motivo pelo qual as negociações não avançaram depois de 16 dias de greve nosbancos do Distrito Federal. “Já são duas semanas e as coisas não andaram umcentímetro sequer. O tempo foi suficiente e nós somos defensores da sociedade enão podemos ficar observando um belo dia eles resolverem esse problema. É umproblema social e não só entre as partes”.
Para os sindicalistas o impasse continua porque ospatrões não apresentaram nenhuma outra proposta depois que a anterior foirejeitada. Já a Fenaban argumentou que o diálogo foi interrompido porque osbancários entraram em greve.Para a imprensa, o procurador destacou que omovimento de greve não é justificativa para interrupção das negociações. “Odireito de greve é constitucional e legal dentro de certos parâmetros. Então, ofato de se deflagrar uma greve, dentro dos parâmetros legais, evidentemente quenão é motivo para evitar a negociação. Ao contrário. É um motivo para anegociação ser mais apressada. Ou seja, eles foram obrigados a se utilizarem deum meio de pressão previsto na Constituição”, ressaltou Silva.