Obras de infra-estrutura levam à devastação do cerrado, diz pesquisador

25/09/2008 - 0h30

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A conservação das áreas devegetação nativa do cerrado, que já teve mais de 40% da cobertura vegetal devastadapara dar lugar às pastagens e agricultura, depende de mobilização e dealternativas econômicas para o desmatamento. O diagnóstico é do pesquisador eprofessor da Universidade Federal de Goiás, Laerte Ferreira, apresentado no livro A Encruzilhada Socioambiental: Biodiversidade, Economia e Sustentabilidade doCerrado, lançado hoje (25), em Goiânia, com a participação do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.

Segundo Ferreira, a devastação dobioma sempre esteve diretamente relacionada ao desenvolvimento de infra-estrutura, como pavimentação de rodovias, por exemplo. Os mapas produzidospelo Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) mostramque as áreas mais desmatadas coincidem com a malha rodoviária e com os pólos do agronegócioda região, principalmente nos estados de Goiás e Mato Grosso.

“As áreas remanescentes estãolocalizadas em regiões ainda desprovidas de infra-estrutura, com elevadosíndices de pobreza, baixo IDH [Índice de DesenvolvimentoHumano]. A pergunta que fica é: como levar desenvolvimento a essas regiõese ao mesmo tempo conservar os remanescentes do Cerrado?”, questiona.

A solução, de acordo com opesquisador, passa necessariamente por alternativas econômicas de estímulo àpreservação, como benefícios fiscais para quem optar por práticas de produção sustentáveise pela geração de créditos de carbono, para que o cerrado seja mais lucrativo conservado,e não desmatado.

“Essa aparente contradição entredesenvolvimento e Meio Ambiente não precisa existir; podemos terdesenvolvimento social, econômico e humano e preservar os recursos naturais”,pondera.

Levantamento da organização não-governamentalConservação Internacional, parceira do Lapig, estima que o bioma poderender cerca de US$ 20 bilhões em créditos de carbono. Segundo Ferreira, a geraçãode créditos viria de projetos de desmatamento evitado, que impedem a emissão demais gás carbônico na atmosfera, e dereflorestamento de áreas já degradadas.

“Hoje boa parte do cerrado está alimentando a indústria siderúrgica, com carvão vegetal. Com oreflorestamento, é possível o uso de carvão de áreas reflorestadas e não deáreas nativas”, compara.

Ferreira argumenta, que assim como ocorreu na Amazônia, é preciso estimular a mobilização social em defesa dapreservação do cerrado. “A Amazônia entrou na pauta do cidadão comum. A expectativaé a mesma para o cerrado”. Uma das estratégias é o início da divulgação deimagens de satélite do Lapig sobre os alertas de desmatamento do bioma,semelhante ao Sistema de Detecção em Tempo Real (Deter), usado na floresta.

“Ao divulgar dados dedesmatamento, estamos criando subsídios para que o governo tenha melhoresinstrumentos de pensar a gestão territorial e ambiental do bioma. Com adivulgação, estamos alertando as pessoas para a questão ambiental do cerrado,que é grave."