Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O deputado Marcelo Freixo (P-SOL), presidente daComissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Milícias, instalada pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), disse hoje (23) que a deputada federal Marina Maggessi(PPS–RJ) não esclareceu as suspeitas de ter sido tolerantecom a atuação das milícias quando trabalhou naCoordenadoria de Inteligência Policial (Cinpol).De acordo com Freixo, adeputada tentou desviar o foco das investigações da CPI,ao afirmar em seu depoimento que se preocupa mais com o suposto envolvimento de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) com o tráfico na Rocinha e com as ameaças de morte queestariam sendo feitas as membros da CPI dos Grampos, da Câmara dos Deputados.“A deputada MarinaMaggessi sabe muito bem jogar as informações com oobjetivo de tirar o foco das investigações. Na verdade,ele não conseguiu responder porque, quando era inspetora depolícia e quando ocupou o Cinpol, não houve sequer uma ação de combate à atuação dasmilícias”, destacou o deputado, que ouviu o depoimento de Marina à CPI na manhã de hoje. “A CPI épara apurar milícias. Não sei por que a deputada, queafirma ter as acusações em relação aotráfico há muito tempo, ainda não fez a denúnciaformal a algum órgão de segurança”, questionou.Quanto às acusaçõesde ter sido omissa na investigação das milícias,a deputada informou que, enquanto trabalhou no setor de inteligênciada Polícia Civil, em 2003, não investigou a atuaçãodesses grupos nas favelas do Rio porque era uma atribuiçãoda Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco).Freixo lembrouque Marina chegou a defender a atuaçãodas milícias antes de se eleger deputada. “Esse fato jáé grave para uma policial. Ela agora alega que as milíciasmudaram e que ela não apóia mais”, disse o parlamentar.A deputada foiconvocada a prestar depoimento depois de ser citada pelo vereadorJosinaldo Francisco da Cruz, o Nadinho (DEM), investigado comosuspeito de chefiar a milícia do bairro Rio das Pedras. Alémde Marina, Nadinho também citou o deputado federal MarceloItagiba (PMDB-RJ), ex-secretário de Segurança Pública do Rio deJaneiro, como autoridades policiais que tiveram votaçõesexpressivas nas áreas dominadas por milícias.Os dois parlamentaresfederais, na opinião de Nadinho, não teriam realizadoações para combater às milícia. Aocontrário, assinalou, teriam apoiado. A mesma opinião foi dadapelo vereador Cristiano Girão em depoimento à CPI.Girão é acusado de liderar a milícia da favelaGardênia Azul.Não é aprimeira vez que citam a deputada por suposto envolvimento em um crime. Ela jáfoi acusada de ter sugerido ao inspetor Hélio Machado daConceição, o Helinho, que matasse o delegado AlexandreNeto, da Divisão Anti-Seqüestro (DAS). O delegado sofreuum atentado ao sair de sua casa, em Copacabana, no ano passado.A deputada teria sidoflagrada em uma conversa telefônica com Helinho, interceptadapela Polícia Federal no dia 21 de outubro do ano passado. Emum dos trechos da conversa, a então deputada dizia aoinspetor que desse "um monte de tiros nos cornos" de Neto. De acordo cominvestigações da PF, o delegado, queocupou durante vários anos a Corregedoria da PolíciaCivil do Rio de Janeiro, teria elaborado um dossiê sobresupostas atividades ilegais do ex-chefe de Polícia Civil, odeputado estadual cassado Álvaro Lins.O documento produzidopor Neto teria servido para desencadear a Operação Gladiador, durante a qual a PF prendeu policiais que teriam envolvimento com a exploração decaça-níqueis. Entre os presos estavam o inspetor Helinho. Adeputada, na época, negou ter sugerido a morte do delegado.Ela admitiu ser dela a voz da gravação e alegou setratar de uma “conversa íntima” entre amigos de muitotempo.